Está ficando oficial: o Campeonato Brasileiro, se seguir nesse ritmo, já pode ser considerado parecido com o campeonato alemão, no qual o Bayern de Munique venceu 7 dos últimos 10 títulos. Mais um pouco, será igual ao campeonato francês, no qual o Lyon ganhou cada um dos últimos 7 títulos e segue firme rumo ao octacampeonato.
O São Paulo, com o primeiro tricampeonato de sua história e sendo o primeiro tricampeão da história do Brasileiro, confirmou no último domingo que é o grande clube do futebol brasileiro, o mais vitorioso (6-3-3!) e o melhor estruturado. Nesse ano, mesmo com um elenco mais limitado do que os anos anteriores, conseguiu uma arrancada impressionante no segundo turno, terminando o campeonato com 18 jogos seguidos sem derrota (foram 12 vitórias e 6 empates. Tirou uma diferença de 11 pontos que o Grêmio possuía no início do segundo turno e chegou a abrir 5 pontos a duas rodadas do final.
Antes de mais nada, não concordo com o que muita gente vem falando que a eventual incompetência dos outros times, especificamente Palmeiras, Grêmio, Flamengo e Cruzeiro, os quais se mantiveram nas 4 primeiras posições na maior parte do campeonato, foi o fator primordial para “permitir” que o São Paulo conquistasse o título. Digo isso com base na comparação com os dois campeonatos anteriores, também vencidos pelo São Paulo, considerando a classificação dos 5 primeiros colocados:
2006: São Paulo (78), Inter (69), Grêmio (67), Santos (64), Paraná (60)
2007: São Paulo (77), Santos (62), Flamengo (61), Fluminense (61), Cruzeiro (60)
2008: São Paulo (75), Grêmio (72), Cruzeiro (67), Palmeiras (65), Flamengo (64)
Olhando a pontuação do segundo ao quinto colocados nos três anos, observamos que, justamente nesse ano (2008) os clubes foram mais competentes do que nos anos anteriores. Foi isso que possibilitou um pega empolgante entre os cinco times ao longo de muitas rodadas e fez com que a decisão ficasse apenas para as últimas 3 rodadas com 3 times na briga e na última rodada com 2 times postulando o título. É verdade que alguns tropeços, como os do Flamengo no Maracanã contra Atlético-MG, Portuguesa e Goiás, do Palmeiras contra o Grêmio em casa e do Cruzeiro nos jogos fora de casa, além da queda de produção do Grêmio em grande parte do segundo turno, foram relevantes, mas eu não diria que foram decisivos... porque foram normais! Assim é um campeonato de pontos corridos: cada rodada tem o mesmo valor e a mesma importância, mas é a somatória de todas que decide um título. Os times que brigaram mas não levaram foram, em 2008, mais competentes do que em 2007 e em 2006, mas ainda não suficientemente competentes para chegar ao título.
E é exatamente a competência sãopaulina que vem fazendo a diferença nesses anos. Competência que tem alguns fatores mais do que citados pela mídia especializada nas últimas semanas (a tal “organização diferenciada”), dos quais destaco:
1) No São Paulo, a direção do clube tem uma rotatividade dentro dos padrões democráticos. Cada presidente pode ser reeleito no máximo uma vez. Não há virada de mesa ou “adendos ao estatuto” que permita a existência de Mustafás, Dualibs ou Marcelos Teixeiras da vida. E se a situação quiser manter-se no poder, que faça um bom trabalho. Houve 2 viradas de poder (situação/oposição) nos últimos 15 anos.
2) Liderança: personificada no capitão Rogério Ceni, vai muito além do simples “chefe” ou aquele que é a referência e o jogador mais importante. Isso ficou muito claro na entrevista de ontem no programa Bem Amigos do Sportv: no time do São Paulo há uma espécie de forma de trabalho que quem quiser participar tem que se adaptar a ela. E nesse ponto o capitão dá o exemplo, procurando trabalhar duro e não deixando que os outros amoleçam. Não há espaço para “malas” (ex.: Carlos Alberto). Ou se entra no “esquema” ou nem vem tentar atrapalhar o que está funcionando.
3) Continuidade do trabalho: existe a máxima de que “em time que está ganhando não se mexe”. Mesmo ganhando os Brasileiros, o Muricy balançou diversas vezes, principalmente nas perdas das três últimas Libertadores (em minha opinião, considero que as críticas a ele são justas apenas na derrota de 2007 para o Grêmio). Mas o presidente Juvenal Juvêncio bancou sua permanência. E a continuidade não se aplica somente à direção técnica. Aplica-se também na manutenção do elenco ou na renovação de forma equilibrada e contínua. No início desse ano as contratações “polêmicas” de Adriano, Fábio Santos e Carlos Alberto fugiram do padrão que vinha sendo adotado (foram 3 contratos de 6 meses) e foi um dos motivos que fez com o primeiro semestre não fosse tão bom, culminando com a desclassificação da Libertadores e com o início complicado do Campeonato Brasileiro.
Parece uma receita relativamente simples e lógica, mas é impressionante a dificuldade que outros times têm para colocar esses pontos em prática: seja vaidade, sede de poder, desespero por conquistas ou qualquer outro motivo – a instabilidade é marcante e decisiva. Ou os outros times começam a pensar nos objetivos maiores, coisa que alguns, como Inter e Cruzeiro, já dão sinais, ou então a hegemonia tricolor só vai se prolongar.
ArbitragemFui assistir ao jogo decisivo, contra o Goiás, na casa do meu amigo Dante, juntamente com os outros que acompanharam juntos as últimas rodadas (Batata, Bola, Cris e Baboo). No momento do gol do Borges todos nós pulamos dos sofás, mas ficamos uns 10 segundos parados, pois o impedimento era tão claro que o gol tinha que ser anulado. Só comemoramos quando tivemos certeza da confirmação do gol. Minutos antes, o Paulo Bayer teve uma chance clara de gol, quase marcando de letra, também em impedimento. Não é questão de que time A ou time B está sendo beneficiado ou prejudicado. A questão é que a arbitragem nacional é muito ruim pelo simples fato de ser AMADORA. Enquanto os árbitros não se profissionalizarem e passarem todo o tempo entre os jogos se preparando, estudando, analisando e debatendo lances polêmicos, não vejo como a situação pode ser melhorada. Não que os erros vão ser eliminados, mas tenho certeza que serão minimizados.
HerançaNo domingo anterior, no jogo contra o Fluminense, fiz questão de levar meu pai ao estádio. Ele havia completado 70 anos na véspera e eu esperava que a comemoração do título fosse um presente extra. Infelizmente não comemoramos um título no estádio, mas tivemos que esperar apenas mais uma semana. Há 27 anos, meu pai me levou a um estádio de futebol (tinha que ser o Morumbi) pela primeira vez (eu tinha 6 anos), na
semifinal do Campeonato Brasileiro de 1981, contra o Botafogo. Foi memorável, me lembro como se fosse hoje. Chegamos com alguma dificuldade e, quando entramos, o Botafogo já vencia por 2x0. Vimos uma virada histórica, com gols do Serginho Chulapa (1) e
Éverton (2). Infelizmente, o São Paulo não foi campeão naquele ano, perdendo a final para o Grêmio, o mesmo Grêmio que dessa fez ficou com o vice-campeonato. Mas foi naquele jogo que o tricolor, de quem eu já gostava pela influência paterna, me conquistou definitivamente. Hoje, passados 27 anos, mais 5 Brasileiros conquistados, 3 Libertadores e 3 Mundiais, só posso dizer: “Papai, obrigado por eu ser Sãopaulino!!!”
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