domingo, 25 de abril de 2010

Olho nos Spurs

Antes da temporada começar indiquei o San Antonio Spurs como meu candidato ao título. Durante a temporada parecia que o time estava sentindo o peso da idade e que não teria gás para buscar o quinto título em 11 anos. Depois do jogo de ontem, parece que a tática de preservar os jogadores pode dar certo.

Depois de perder o primeiro e vencer o segundo jogo em Dallas, contra os Maverics, os Spurs começaram bem o jogo 3 e pareciam estar com o jogo sob controle até o início do terceiro quarto, quando lideravam por 8 pontos e Manu Ginobili recebeu uma cotovelada (totalmente involuntária) no nariz em um lance onde foi ajudar na marcação de Dirk Nowitzki. Saiu de quadra com o nariz sangrando e muito torto, foi para o vestiário e voltou minutos depois com um curativo e com as narinas cheias de algodão. Durante esse tempo, os Maverics conseguiram uma sequência de 17-2 e passaram a comandar o placar. Ginobili voltou pro jogo como se nada tivesse acontecido (será que Jacob estava no vestiário e deu uma mãozinha?) e colocou os Spurs de volta a liderança com algumas infiltrações, mesmo com o risco de receber novos contatos no nariz QUEBRADO. Um guerreiro e um monstro. Marcou 11 pontos no último quarto.

Os Spurs recuperaram a liderança e confirmaram a vitória, graças aos arremessos de Tony Parker no final do jogo. Agora lideram a série por 2-1 e têm mais um jogo em casa, nesse domingo para tentar a vantagem de 3-1.

Falando em Greg Popovic, ontem ficou muito claro a diferença de nível dos técnicos que estavam na quadra. Gosto do técnino dos Mavs, Rick Carlisle, mas a diferença é gritante: Carlisle tem com característica não deixar o jogo seguir quando o adversário começa um "run" (marcação de vários pontos seguidos do mesmo time). Pede tempo após seu time tomar a segunda ou, no máximo, a terceira cesta seguida. Durante o terceiro quarto, no run de 17-2 dos Mavs, o técnico dos Spurs fez exatamente o contrário: deixou o jogo seguir, sem pedir tempo. Ginobili voltou e aí foi a vez dos Spurs começarem um run. Carlisle pediu tempo após a segunda cesta seguida dos Spurs. E não adiantou nada, o comando do jogo já havia voltado para as mãos dos donos da casa.

Pra mim isso mostra a diferença entre os técnicos, entre quem tem o time completamente nas mãos e quem precisa intervir o tempo todo. Popovic tem o time completamente nas mãos e o time consegue sair de situações difíceis por si só. Só conheço outro técnico que o mesmo perfil: Phil Jackson. Será coincidência que os dois conquistaram 8 dos últimos 10 títulos da NBA?

Minha opinião é que o jogo 4, amanhã em San Antonio, vai decidir a série. Uma vitória dos Spurs levará à vantagem de 3-1 na série e não acredito que os Maverics, a segunda melhor campanha do Oeste, consigam reverter e vencer 3 jogos seguidos do time de Greg Popovic.

E eu não gostaria de enfrentar os Spurs nas próximas fases dos playoffs...
 
.

domingo, 18 de abril de 2010

NBA: Hora dos Playoffs

Na temporada de 99/00 os Lakers venceram 67 jogos na temporada regular e conquistaram o primeiro dos três títulos seguidos com Kobe e Shaq. Na temporada seguinte (00/01), venceram 56 jogos (11 a menos), mas são considerados o melhor time da NBA nos últimos 10 anos. Por que? Porque nos playoffs venceram 15 jogos e sofreram uma única derrota (para os 76ers no jogo 1 das finais, numa atuação histórica de Allen Iverson), após 3 varridas sobre Portland, Sacramento e San Antonio. A dominância da dupla Kobe-Shaq atingia seu ápice.

Na temporada passada os Lakers venceram 65 jogos e conquistaram o título. Nesse ano? 57 vitórias (8 a menos). O discurso de Phil Jackson nas últimas semanas vem sendo que o importante é preservar as pernas nos jogadores (especialmente Kobe, que ficou de fora de vários jogos) para uma nova arrancada nos playoffs. No meu preview da temporada eu comentei que os pontos de interrogação dos Lakers eram muitos (Lamar Odon, Ron Artest, Phil Jackson) e, para piorar as coisas, Andrew Bynum está voltando de mais uma contusão. Resta esperar que o planejamento do Zen Master visando apenas os playoffs, abrindo mão do mando de quadra nas finais caso enfrente Cleveland ou Orlando, que terminaram com melhores campanhas que os Lakers, funcione, como funcionou em 2001.

Voltando às minhas “previsões de antes da temporada”:

PRINCIPAIS ACERTOS:

- Lakers e Cavs liderando as conferências (nenhum mérito por isso).

- A boa campanha dos Mavericks.

- O domínio dos 4 primeiros times do leste (Cavs, Magic, Hawks e Celtics).

- A classificação do Oklahoma City Thunder para os playoffs (deixnado os Rockets de fora).

- A confirmação de Kevin Durant como um dos principais cestinhas da liga. Durant não só venceu a disputa com Lebron James, como se tornou o mais jovem cestinha da história (21 anos), com média de 30,1 pontos por jogo. Estarei no mundial da FIBA em setembro e, saber que há o risco de que Lebron, Kobe e D-Wade podem não estar lá não preocupa tanto, considerando o quão ansioso estou para ver Kevin Durant joagando ao vivo e in loco.

- Lebron James será o MVP pela segunda vez consecutiva e de uma forma incontestável.

INTERROGAÇÕES DE ANTES DA TEMPORADA:

- Shaquile O’Neal: as melhores fases dos Cavs foram com Shaq fora do time. Agora, está voltando de contusão para os playoffs. O principal motivo de sua contratação foi a necessidade de alguém para encarar Dwight Howard no provável encontro entre Cleveland e Orlando na final do Leste. Como suporte para Lebron, vale a aposta. De quebra, os Cavs ainda agregaram Antawn Jamison, dos Wisards, no meio da temporada. Agora eles têm opções de variações táticas que não tinham no ano passado. É a última tentativa de conquistar um título comLebron e tentar segurá-lo no final da temporada, quando acaba seu contrato. São os favoritos.

- Vince Carter: apesar de alguns bons momentos, ainda acho que será lembrado como um tiro no pé do Orlando Magic e vai ajudar contribuir para a derrota contra o Cleveland na final do leste (se não fizer isso já série contra o Atlanta na segunda fase dos playoffs);

- Kevin Garnet: eu havia dito que se ele estivesse totalmente recuperado os Celtics seriam os favoritos para vencerem o leste. Pois é, KG não voltou bem fisicamente e, juntando com a catastrófica contratação de Rasheed Wallace, os Celtics parecem mais um catadão sem condições de irem muito longe.

- Manu Ginobili e Tim Duncan: Até 2/3 da temporada os Spurs jogavam com o freio de mão puxado. Tiveram uma ótima arrancada no último terço da temporada (especialmente Ginobili), mas deram azar de enfrentar logo o Dallas Mavericks na primeira fase dos playoffs, provavelmente o pior match up que poderiam ter. Eu apostaria neles contra qualquer time do Oeste, menos Dallas e Lakers. Parece que é o final da linha para um dos dois grandes times dos últimos 10 anos.

(somem os dois últimos parágrafos e a minha previsão para uma final entre Spurs e Celtics vai completamente pelos ares)


OS ERROS NAS PREVISÕES

Erros, parte 1 - as surpresas.

- Phoenix Suns: e não é que Steve Nash, aos 36 anos, ainda conseguiu nos dar mais uma temporada como as de 2005 e 2006, quando ganhou os 2 prêmios de MVP? Os Suns voltaram a jogar em velocidade, conquistaram a terceira melhor campanha do oeste e são o time com o melhor "momento" entrando nos playoffs.

- Milwaukee Bucks: esse eu não sei de onde veio. Mesmo com a contusão de Michael Redd, se transforamam em um time de playoff , não fosse a contusão de Andrew Bogut, poderiam ter terminado com a quinta campanha do leste e com chances reais de eliminar os Celtics na primeira rodada dos playoffs.

- Chalotte Bobcats: a chegada de Stephen Jackson e a evolução de Gerald Wallace ao nível de All Star levaram o time de Michael Jordan (o dono) a ser temido por todos. Vão dar muito trabalho para o Orlando Magic.

Erros, parte 2- as decepções:


- Washington Wizards (leia-se Gilbert Arenas)
- New Orleans Hornets (leia-se a contusão de Chris Paul)


OS PRÊMIOS

As barbadas (não tenho coragem de indicar outros):

- MVP: Lebron James (Cleveland Cavaliers)
- Defensive Man of the Year: Dwight Howard (Orlando Magic)
- Sixth Man of the Year: Jamal Crawford (Atlanta Hawks)

Os não-barbadas (possivelmente nenhum desses será premiado):

- Coach of the Year: Scott Skiles (Milwaukee Bucks)
- Most Improved Player: Marc Gasol (Memphis Grizzlies)
- Rookie of the Year: Tyreke Evans (Sacramento Kings) - foi o quarto rookie da história a terminar a temporada com médias de pelo menos 20 pontos, 5 rebotes e 5 assitências. Os outros 3? Michael Jordan, Oscar Robertson e Lebron James.


OS PLAYOFFS

Uma pena que algumas contusões vão prejudicar um dos possíveis playoffs mais imprevisíveis dos últimos tempos: Brandon Roy (Blazers), Andrew Bogut (Bucks) Andrei Kirilenko (Jazz), Robin Lopez (Suns). Meus palpites:
 
LESTE
 
#1 Cleveland Cavaliers 4, #8 Chicago Bulls 0 - Lebron James está em uma missão.
#2 Orlando Magic 4, #7 Charlotte Bobcats 2
#3 Atlanta Hawks 4, #6 Milwaukee Bucks 1 - com Andrew Bogut a série iria a 7 jogos
#4 Boston Celtics 4, Miami Heat 3 - vou apostar na experiência contra o show de um homem só.
 
OESTE
 
#1 LA Lakers 4, Oklahoma City Thunder 1 - sensacional duelo entre Kobe e Kevin Durant. Mas a falta de experiência será fatal para o Thunder.
#2 Dallas Mavericks 4, #7 San Antonio Spurs 3 - uma pena que um dos 3 melhores times do Oeste tenha que ser eliminado já na primeira fase. A melhor série da primeira fase dos playoffs.
#3 Phoenix Suns 4, #6 Portland Trail Blazers 1 - com Robin Lopez jogando apostaria na varrida (considerando a ausência de Brandon Roy)
#4 Denver Nuggets 4, #5 Utah Jazz 3 - antes da contusão de AK47, estava apostando no Jazz. Mas sua ausência, mais a situação de Carlos Boozer (não está 100%), me faz apostar em Carmelo Anthony e cia., mesmo sem o técnico George Karl e com Kenyon Martin voltando de contusão.
 
.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

MAIS UMA LIÇÃO DO ESPORTE

Nesse final de semana conheci um casal de amigos do meu grande amigo olímpico Marcelones (a versão personificada da ONU). John e Lisa, ele americano e ela canadense, estão viajando o mundo, patrocinados pelo Comitê Olímpico Internacional, procurando respostas para a pergunta "Why Sport Matters?" ("Por que o esporte é importante?"). Eles já passaram pela África, estão finalizando a passagem pela América do Sul e agora estão rumando para a Oceania, voltarão para a África do Sul (não podem deixar a Copa do Mundo passar em branco), Ásia e Europa (Grécia e Turquia). Deixo a indicação do site do projeto: http://www.whysportmatters.com/. Conheço muita gente que adoraria estar no lugar deles.

E ontem tivemos mais uma resposta (das muitas possíveis) para a pergunta do projeto, em Augusta, na Geórgia (EUA), onde foi concluído mais um Masters de golfe, o torneio mais tradicional da PGA. O assunto da semana foi a volta de Tiger Woods aos campos, após quase 5 meses de afastamento devido ao escândalo de sua vida particular, quando foi revelado que ele possuia mais de uma dezena de amantes, enquanto passava a imagem de um homem de família, com mulher e filhos. Enquanto Tiger tentava cuidar de seu problema (chegou a se internar em uma clínica para tratar seu vício em sexo, acreditem!), o eterno número 2 do ranking, Phil Mickelson, tentava cuidar de um outro problema, mais sério: o tratamento do câncer de mama de sua esposa, Amy, mesma doença pela qual sua própria mãe também já havia passado. Deixou de competir em diversos torneios e chegou a perder a posição no ranking.

No Masters, que foi disputado nos últimos quatro dias, ambos estavam presentes e todos os olhares estavam em Tiger (afinal, era o retorno de um dos maiores atletas de sua geração, e não estou falando apenas de golfe), que foi muito bem, apesar dos 5 meses de ausência das competições, terminando com 11 tacadas abaixo do par, incluindo o score de 69 (quanta ironia!) no domingo. Mas esse resultado foi suficiente apenas para a quarta colocação. Phil Mickelson brilhou e conquistou o Masters pela terceira vez (havia ganho em 2004 e 2006) com 16 tacadas abaixo do par do campo. Os deuses do esporte olharam na direção do bom marido. Não costumo postar textos inteiros nesse espaço, mas o texto de Rick Reilly, da ESPN.com, é brilhante. Chamo a atenção para o último parágrafo:

"Soon enough, though, Woods will win tournaments like this, pass Nicklaus, and order will be restored in the universe. But for this one Sunday in a flower-stuffed pocket of Georgia, the good husband, the good son, the good man actually got rewarded."
("Em breve, Woods vencerá torneios como esse, ultrapassará Nicklaus (o recorde de títulos em Majors), e a ordem será restabelecida no universo. Mas para esse no Domingo, em uma porção florida da Georgia, o bom marido, o bom filho, o bom homem foi recompensado").



Mickelson's win a victory for women

AUGUSTA, Ga. -- It's not often women win the Masters, but they did Sunday.

Actually, Phil Mickelson won, but for millions of women around the country, it must feel like a lipstick-sized victory. Mickelson, in case you forgot, is the guy who stayed true to his wife. He's the guy who's been missing tournaments the last 11 months while he flies her back and forth to a breast cancer specialist in Houston. He's the guy who didn't need reminding that women are not disposable.

Mani-pedis for everybody!

Also winning Sunday: karma, which proved to be alive and well. And guys who never had a temper in the first place. And endings that make you wipe your tears on the couch pillows.

Mickelson is the guy whose heavy head on the bed pillow lately wasn't self-inflicted. Both his wife, Amy, and his mother, Mary, have breast cancer. Usually, those two are at every tournament he's in, but for the last year they've been fighting, resting, and fighting again at home. And Mickelson has gone back to his rented homes alone.

So when Amy turned up on the 18th green Sunday at Augusta National for the first time in 11 months and Mickelson practically fell into her outstretched arms, you wanted to hug somebody yourself. Mickelson hugged and cried. And his wife hugged and cried. And his coach and his caddy hugged and cried. And 10 minutes later, the caddy was still crying.

"This is way beyond golf," said caddy Jim "Bones" Mackay, who's been with Mickelson for 19 years. "This is about a guy who loves his wife. This is about a guy who had a really hard year. Twenty years from now, nothing will compare with this. This is his greatest win, by far. Because of Amy, because of his mom, everything. God bless all those women that go through what Amy and Phil's mom have gone through. Because I've seen it and it ain't easy."

"Of all the majors I've been involved in," said Mickelson's coach, Butch Harmon, "be they with Tiger, Phil, anybody, this is the most emotional by far. This year has been a big, big strain on him. His game has suffered. What he really wanted was to be home with his family."

You figured a guy who came into this Masters having played only seven tournaments this year -- and never placing better than eighth in any of them -- would have a snowball's chance. But something melted in him when his wife and three kids showed up for the first time in nearly a year on Tuesday.

"He just had this peace to him that I haven't seen in awhile," said Bones.

Amy was still hurting, so she wasn't able to come to the golf course, but it was close enough. Each morning, Mickelson would take his oldest, Sophie, to a local coffee shop and play chess for an hour. At night, the whole brood would watch dumb movies. Mickelson came through that door each night after work like it was Christmas morning. You don't know how dispiriting it is to come home after a long day to a strange, empty house. Come to think of it, maybe Tiger knows.

"It's been tough," Mickelson said. "The meds that she's been taking have been very difficult and she didn't feel well and she doesn't have energy and she's not just up for a lot. But to have her here, man …"

Mickelson stopped by for a hug with his wife Amy.

Amy Mickelson is the kind of walking rainbow that could put a smile on a mortician's face, so when she showed up, everything started looking up. The golf gods started raining favors down on Mickelson's curly hair. On Saturday, golf balls started going into tiny little cups from great distances. Sunday, it got even better:

At 9: ball hits tree, bounces back into fairway. Par.

At 10: ball hits tree, bounces back into playable territory. Par.

At 11: ball hits fan, bounces into short, happy grass. Par.

"Got an assist there," Mickelson said.

Did the guy say anything?

"Ouch?" Mickelson guessed.

The big lefty took it from there.

At 12: looked into his "book of reads" for the 20-foot putt -- the green-studying book that Bones and he spent "days and days" putting together on a trip this year to Augusta -- and buried it. Birdie.

At 13: pulled off the most audacious, swashbuckling shot of his life at 13 -- from the right woods, off pine straw, through two trees (4 feet apart), over Rae's Creek, from 207 yards, to 3 feet. Two-putt birdie.

At 15: smashed an 8-iron from 205 yards -- yes, 8-iron to 15 feet for a 2-putt birdie.

Suddenly, the guy who'd spent a career being eaten alive by Woods had left him 5 shots behind. It was only a matter of lag for par, lag for par, 10-foot birdie and get the Kleenex ready.

"I saw Amy just before I putted," Mickelson said. "That was so great. I mean, I didn't know if she would be there. To walk off the green and share that with her is just very, very emotional. We'll remember this [for] the rest of our lives."

Contrast that with Woods, who spent the week reverting to form -- acerbic answers, sprayed swear words, and curt interviews. He finished fourth, which shows that the golf game is very close. The personality makeover, though, looks like it needs some work.

Soon enough, though, Woods will win tournaments like this, pass Nicklaus, and order will be restored in the universe. But for this one Sunday in a flower-stuffed pocket of Georgia, the good husband, the good son, the good man actually got rewarded.

.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

SOBRE O HORÁRIO DOS JOGOS DE FUTEBOL

Aproveitando o gancho do Balu sobre o assunto do horário dos jogos noturnos em São Paulo, assunto que tem sido muito discutido na mídia recentemente, resolvi dar a minha opinião também. Eu gosto muito (muito mesmo!) de futebol e vou a todos os jogos importantes do São Paulo no Morumbi (por importantes entenda-se todos os jogos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro e os clássicos do Campeonato Paulista). Sou proprietário do passaporte tricolor (nosso “season tickets”) pelo segundo ano consecutivo. Em outras palavras, futebol é realmente importante para mim.

Mas acho que às vezes essa “importância” do futebol ultrapassa alguns limites além do que deveria. O Balu citou uma frase que é muito falada pelo Milton Neves (não sei se ele é o autor da frase ou não): “O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”. Concordo plenamente. O problema é que pra muita gente passa a ser uma das coisas mais importantes entre as mais importantes. O maior exemplo de que essa importância é extrapolada é a ação dos torcedores que se “profissionalizam” na atividade de torcer. Fico completamente inconformado quando vejo notícias de que torcidas “organizadas” (de qualquer time) invadem treinos para cobrar o time por maus resultados. Esse pessoal não tem mais nada para fazer numa segunda-feira à tarde? Não trabalha? E o que lhes dá o direito de invadir um ambiente de trabalho, que é o que os treinos são, para causar tumulto?

Encaro futebol como mais uma alternativa de lazer. Deixadas as proporções de lado, é como o cinema, o teatro, um show de rock ou até um programa de TV. Se é bom (ou mesmo importante), quero assistir, se não é, não faço questão. Se eu estiver presente e não gostar, tenho todo o direito de vaiar e reclamar, pois estou pagando pelo ingresso. Mas invadir os treinos vai além do meu direito de consumidor. Se o espetáculo ficar constantemente ruim ou deixar de ser atrativo por qualquer outro motivo, simplesmente deixo de ir. Não vou invadir um set de filmagens ou um estúdio de gravação para cobrar os artistas.

Em São Paulo a discussão do momento é um projeto de lei que foi aprovado na Câmara dos Vereadores e vetado pelo prefeito Gilberto Kassab (provavelmente por questões políticas) que queria proibir que os jogos terminassem após as 23h15. O argumento é que o horário dos jogos às 21h50 (“após a novela da Globo”) é a causa da queda de público nos estádios: o cidadão não vai ao estádio nesse horário porque, quando o jogo acabar, lá pela meia-noite, não terá como voltar para casa utilizando transporte público ou então terá mais risco de ser uma vítima da violência urbana. Concordo que faz sentido, mas confesso que não consigo aceitar que alguns órgãos da mídia estejam fazendo uma campanha tão intensiva em cima desse assunto. Sou ouvinte assíduo e antigo da Rádio Jovem Pan AM, mas quando seus editoriais sobre o assunto começam (e são repetidos várias vezes ao longo do dia), mudo de estação imediatamente, ficou muito chato e repetitivo, além de parecer que uma catástrofe vai acontecer se a mudança não acontecer. Já cansei de ver jogos às 20h30 com tão pouco público quanto os jogos das 21h50. Tenho certeza que o que faz a diferença é a qualidade e a importância de determinado jogo e que o impacto do fator horário é muito menor do que se anda dizendo por aí.

Os clubes de futebol têm quatro principais fontes de receita (em alguma ordem): patrocínios, venda de jogadores, bilheteria e venda dos direitos de transmissão para a TV. Provavelmente a bilheteria é a menor de todas. Ao venderem os direitos de transmissão, sabem que a TV terá o poder de definir os horários dos jogos para quando bem entender (é assim no mundo todo e em qualquer modalidade esportiva – o maior exemplo foi a Copa do Mundo dos Estados Unidos em 1994, quando a final foi disputada ao meio-dia de Los Angeles por questões televisivas para a Europa). Se o torcedor acha que não vale a pena ir ao estádio em tal horário, não vá e não dê seu dinheiro ao clube... simples assim! E se essa redução de público é compensada ou não pela receita que vem da TV, cabe aos clubes avaliarem se está sendo vantajoso ou não. O problema é todo deles, é uma questão puramente econômica.

Obviamente, eu acharia ótimo se os jogos começassem sempre entre 20h30 e 21h00, mas não deixo de ir ao estádio nos jogos das 21h50. É verdade que uso meu carro para ir e vir, mas chego em casa somente lá pela 1h00 da madrugada e acordo por volta das 06h30 para ir trabalhar. Mas eu entendo como as coisas funcionam e é uma opção minha continuar indo, mesmo ficando com mais sono no dia seguinte.

Na minha opinião, os políticos deveriam se empenhar em dar condições para que os eventos pudessem ocorrer sem maiores problemas, disponibilizando transporte adequado e garantindo a segurança, não usar esses problemas como justificativa para mudar os horários arbitrariamente ou, como também lembrou o Balu, simplesmente jogar a culpa na Rede Globo. Estão querendo tratar o futebol como um direito do cidadão, quase num mesmo patamar que saúde e educação, transformando-o numa coisa muito mais importante do que realmente é. O futebol faz parte da cultura do Brasil e, sem dúvida, precisa ter sua organização melhorada para que a população possa usufruí-lo da melhor forma possível. Mas cada coisa no seu devido lugar.

.