sexta-feira, 27 de março de 2009

ADEUS AO PARAÍBA

Em nossa passagem por Pequim para os Jogos Olímpicos, dois dos principais momentos não relacionado a esporte foram os almoços (relatei rapidamente aqui e aqui) no Restaurante Alameda, um restaurante de comida brasileira onde pudemos saborear primeiramente um delicioso filé mignon e depois uma excelente feijoada - acreditem, duas das melhores refeições da minha vida, considerando o desespero que era conviver com aquele cheiro de tempero chinês.

O Restaurante Alameda tinha como chef um brasileiro, conhecido como Paraíba. Paraíba, ou Valdenir Augusto de Souza, havia deixado mulher e filho em João Pessoa, em 2005, para assumir o comando do restaurante. Rapidamente ganhou fama, tornou-se sócio e até uma mini-celebridade, aparecendo muito na mídia, especialmente na época dos jogos.

Tivemos o prazer de conhecê-lo já no primeiro almoço (pão-de-queijo, filé mignon e pudim de leite, hmmmm), quando ele tomou a liberdade de se sentar em nossa mesa e bater um papo agradabilíssimo, cercado por um bom vinho (cortesia da casa). De uma forma ao mesmo tempo simples e cheia de orgulho, relatou algumas histórias muito legais, como das vezes que era chamado para cozinhar para o Presidente Lula quando este visitava a capital chinesa e quando recebeu a visita de Kobe Bryant. Sua simplicidade nos fez simpatizar com ele de imediato. No mesmo dia ainda pagou diversas cervejas para o Fabrício e a Paty contando mais uma série de histórias. Deu até o número do celular pessoal, que foi muito útil para conseguirmos uma mesa para a concorrida feijoada do sábado, dessa fez com toda a galera Tonachina. O Paraíba nos encaixou numa mesa grande (15 pessoas) que estava reservada para o pessoal da Globo, que apareceria mais tarde. Apesar de apenas pouco mais de meia-hora de contato, conhecê-lo foi um dos pontos altos da viagem e uma história para se contar pro resto da vida.

Pois no início da semana o mesmo Fabrício nos enviou esta notícia, que informava que o Paraíba sofrera um acidente de moto em Pequim e não resistiu aos ferimentos, vindo a falecer. Ainda estou meio chocado... é mais um daqueles momentos nos quais as coisas que acontecem parecem não fazer sentido. Mesmo com um contato tão pequeno, o cara nos conquistou, assim como conquistou um lugar de destaque em seu ramo de atividade, mesmo estando muito longe de casa, da família e, pior, em um país totalmente estranho, de outra cultura e de uma língua dificílima (a qual ele aprendeu a falar). Uma história de sucesso, mas que infelizmente durou pouco. Que tenha o descanso merecido, com muita paz.
.

quinta-feira, 26 de março de 2009

CAMPEÕES NACIONAIS


A foto acima é do Santos, Campeão Mundial de 1962. Entre os anos 50 e 60, esse time, com mudanças ao longo do tempo em seu elenco, mas sempre com a presença de Pelé, conquistou inúmeros títulos, entre eles 5 Taças Brasil (1961 a 1965) e um Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, em 1968. No mesmo período, conquistou duas vezes a Taça Libertadores e o Mundial Interclubes (1962 e 1963). Possivelmente um dos melhores times de todos os tempos, se não o melhor. A presença de Pelé dispensa comentários. Por que esse time precisaria de mais algum tipo de reconhecimento?

Pois bem. Nessa semana o Santos e outros clubes (Palmeiras, Bahia, Botafogo, Cruzeiro e Fluminense) que venceram a Taça Brasil e o Robertão entre 1959 e 1971 realizaram um evento de lançamento de um dossiê, com o objetivo de serem reconhecidos como "Campeões Brasileiros" devido a esses títulos. O Campeonato Brasileiro só passou a existir oficialemente em 1971. Com a eventual unificação, Santos e Palmeiras, por exemplo, passariam a ser considerados octacampeões brasileiros.

É complicado tratar esse assunto sem deixar se envolver por paixões pessoais. É óbvio que cada torcedor vai defender o que trouxer mais conquistas para o seu time de coração. Mas o jornalista Paulo Vinícius Coelho, o PVC, da ESPN Brasil, faz uma descrição muito boa sobre a Taça Brasil e o Robertão e uma análise bem imparcial, comentando de forma muito pertinente que estamos falando de campeonatos e realidades diferentes e, por isso, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, ou seja, não se deve misturar esses diferentes campeonatos.

Eu até posso entender o reconhecimento do Robertão como Campeonato Brasileiro, pois afinal a comparação é justa, assim como a comparação entra o Campeonato Intercontinental e o Mundial de Clubes da Fifa, que também são podem ser considerados "irmãos". Mas, no caso da Taça Brasil, já acho um exagero, principalmente se lembrarmos que, em 1967, ambos os campeonatos, Taça Brasil e Robertão, foram disputados e vencidos pelo Palmeiras. E agora o Palmeiras quer comemorar dois campeonatos nacionais de um mesmo ano? Exagero, não? O próprio PVC sá um exemplo muito relevante, que é o caso da Inglaterra, onde a FA Cup é mais antiga que a Premier League e nem por isso é considerada campeonato nacional. Dou o exemplo também da NFL - haviam títulos nacionais antes de 1967, mas quando unificaram as ligas, só passou a importar o Super Bowl e os Steelers são os maiores vencedores com 6 títulos. É calro que os títulos da fase anterior de Bears, Packers, Eagles e Lions (e não são poucos) são importantes, mas são outra história.

Em sua coluna sobre o assunto, Paulo Calçade toca em um outro aspecto, dizendo com muita propriedade que os dirigentes deveriam se preocupar mais com o presente do que com o passado. O que farão, por exemplo, os presidentes do Fluminense, Botafogo e Bahia se esses títulos forem reconhecidos? Como disse o Rodrigo Berber: "vão fazer camisas com os títulos, vender milhões e capturar o dinheiro? Ou serve pros atuais presidentes colocar que 'na minha gestão fomos reconhecidos como campeões brasileiros de 1969'?". Na minha opinião (e de muita gente que eu conheço), Fluminense e Botafogo deixaram de ser times grandes faz algum tempo. E agora parece que descobriram como reverter isso... comemorar títulos de 40, 45 anos atrás. É patético.

Até aceito o reconhecimento do Robertão. Isso tornaria o Palmeiras hexacampeão (1967, 1969, 1973, 1974, 1993 e 1994), o Santos tricamepeão (1968, 2002 e 2004) e o Fluminense bicampeão (1970 e 1984). Mas ainda acho que são realidades distintas. A Taça Brasil, na minha opinião, nem pensar.

Mas, falando agora como sãopaulino (chato com razão, como sempre diz meu amigo Danilo Bessa, o Batata), para nós não tem problema. Se a CPF tornar o Palmeiras octacampeão, podemos passar mais 3 anos até conquistar o eneacampeonato (colaboração do Fabrício) e nos tornarmos soberamos mais uma vez. O problema é que, em 2011, quando estivermos usando as camisas 9-5-5 (ou 9-4-4, 9-4-3, 9-3-3, sei lá), é bem provável que o pessoal da Água Branca entre com um novo dossiê solicitando o reconhecimento de algum quadrangular disputado em 1948 e 1949 contra Sampaio Correio, Vitória e América-RJ para poder comemorar mais dois títulos via FAX.
.


terça-feira, 24 de março de 2009

FIA VOLTA ATRÁS (EM PARTE)

Parece que a FIA (Federação Internacional de Automobilismo), devido à forte pressão que recebeu das equipes e dos pilotos em reações contrárias à mudança da regra do campeonato, resolveu recuar e anunciou que nesse ano a forma de disputa permanecerá igual à do ano passado - vale a pontuação somada ao longo do campeonato. A mudança que havia sido divulgada seria a definição do campeão da temporada em função apenas do maior número de vitórias (comentei isso na semana passada). Porém, os dirigentes da entidade já adiantaram que a recuada se deu por questões técnicas, por não poderem mudar as regras faltando tão pouco tempo para o início do campeonato, e que no ano que vem a mudança será implementada. Em outras palavras, o problema só foi adiado e essa proposta absurda ainda não foi definitivamente enterrada.
.

sábado, 21 de março de 2009

GRANDES BANDAS EM EXTINÇÃO

Tirei a semana para escrever sobre música. Já escrevi sobre o show o Iron Maiden no último domingo e sobre o novo álbum do U2. Na minha opinião (e de muita gente também), o U2 é, atualmente, a maior banda do mundo, em termos de alcance de mídia, turnês, vendas, etc. Não é a minha favorita (o RUSH jamais perderá esse posto), mas está no meu “G8”, que são as 8 bandas que eu coloco acima de todas as demais, a saber: Rush, Genesis, Rolling Stones, U2, Queen, Pink Floyd, Ramones e Beatles. Com exceção das duas primeiras da lista, a ordem das demais acaba variando de tempos em tempos – a ordem que eu escrevi é a dos tempos atuais.

Lembro que em 1994, quando assisti aos Rolling Stones pela primeira vez, eles estavam completando 30 anos de carreira – agora, já estão com 45. DE CARREIRA! Das 8 bandas que eu citei, o U2, que é a mais “nova” de todas, estará completando no ano que vem TRINTA ANOS do lançamento do primeiro álbum, “Boy”. Há quase um mês estava escutando um Podcast do colunista da ESPN Bill Simmons, no qual ele conversava com um amigo exatamente sobre essa questão de que a maior banda dos dias atuais já poder ser considerada uma banda “velha” e deu o mesmo exemplo dos Rolling Stones no início dos anos 90. Comecei a pensar nisso e percebi que há uma falta de novas “grandes bandas”. Quem será a maior banda do mundo daqui a 10 ou 15 anos? Confesso que não vejo ninguém com perfil. De todas as bandas que surgiram nos últimos 20 anos (estou indo longe para procurar uma “nova” banda, eu sei), algumas potenciais ficaram pelo caminho, como Guns’N’Roses e Nirvana, e outras, como Pearl Jam, Oasis e Radiohead, ainda procuram chegar no espaço que está ainda está ocupado. Citei apenas 5 bandas, 2 das quais não existem mais (isso mesmo, pra mim o G’N’R não existe mais apesar do lançamento recente de ”Chinese Democracy”). É muito pouco.

Até para o meu gosto pessoal, a renovação é cada vez menor. Considerando de 1990 para cá, somente 4 bandas que surgiram a partir desse ano estão na minha lista de bandas das quais eu sou realmente fã: Pearl Jam, Oasis, Live e Green Day. Além dessas, sou capaz de citar apenas o Radiohead e o Coldplay, das quais eu não sou fã, como bandas que estão atingindo um patamar acima em termos de grandeza. E nada mais. Se eu estiver me esquecendo de alguma e alguém quiser me lembrar, fique à vontade, mas lembrem-se de considerar o critério de grandeza, não estou falando de qualidade e gosto – nesse linha de raciocínio, considero que o Live, por exemplo, estaria num patamar abaixo, apesar de ser excelente.

Aí começo a pensar nas décadas anteriores, especialmente os anos 70 e 80, que nos presentearam com dezenas de gandes bandas: Led Zeppelin, Rush, Black Sabbath, Deep Purple, Aerosmith, Pink Floyd, Genesis, Bruce Spingsteen, Iron Maiden, AC/DC, Metallica, Def Leppard, Van Hallen, Midnight Oil, R.E.M., Eric Clapton, Ramones, Queen, U2, The Who e, porque não?, Bon Jovi, Madonna e Michael Jackson, só para citar uma parte. Muitas delas ainda estão na ativa, mas por quanto tempo? E depois, teremos somente as poucas citadas anteriormente para assumir o espaço deixado?

Alguns motivos que podem explicar esse fenômeno: menor durabilidade das bandas, efeito internet – hoje se “vende” mais músicas de que álbuns e a mudança no próprio gosto das pessoas (basta ver a invasão de Hip Hop e R&B que acontece na mídia, especialmente nos Estados Unidos). Pode também ocorrer um outro fator, mais difícil de ser percebido por quem está ”vivendo o momento”: lembram-se quando nossos pais, tios, ou qualquer pessoa mais velha dizia que as coisas novas ouvíamos não podiam ser comparadas aos Beatles, por exemplo? De repente estamos fazendo parte da nova geração das “pessoas mais velhas”, que têm dificuldade em aceitar o novo. Particularmente, acho isso possível para explicar a falta de novas bandas que caem no meu gosto com o passar do tempo, mas acredito que não se aplica para justificar a falta de bandas que marcarão época, como aquele monte que eu citei dos anos 70 e 80.

Enquanto no esporte isso não acontece, na música já começo a pensar que em alguns anos dependeremos dos nossos CD’s e iPods para curtir nossos artistas favoritos.
.

quarta-feira, 18 de março de 2009

MUDANÇA NA FÓRMULA 1

Ontem foi anuncianda a mudança na forma de disputa do Campeonato Mundial de Fórmula 1. A partir desse ano, será campeão o piloto que conseguir o maior número de vitórias na temporada. Os pontos por corrida continuam valendo (10, 8, 6, 5, 4, 3, 2, 1), mas apenas para critério de desempate e classificação do segundo lugar do campeonato em diante. Por esse novo critério, Felipe Massa seria campeão no ano passado, pois teve mais vitórias que Lewis Hamilton (acabou perdendo o campeonato por apenas 1 ponto).

Nos anos em que Michael Schumacher era soberano na Fórmula 1, foi feita uma mudança para tentar evitar que ele abrisse tanta vantagem sobre os demais corredores, o que fazia com que o campeonato acabasse em julho ou agosto. E foi uma mudança exatamente no sentido oposto, de desvalorizar a vitória, que antes representavam 10 pontos, contra 6 pontos para o segundo colocado. Com a mudança, a vitória continuou valendo 10 pontos, mas o segundo lugar passou a valer 8.

E agora, essa nova mudança. O argumento usado pelo chefão da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, é que agora as corridas serão mais emocionantes, pois "alguém que está em segundo agora vai tentar vencer, é melhor do que pensar que não valeria a pena ultrapassar e correr riscos por causa de dois pontos". É bem possível que isso ocorra, mas em princípio, não gostei, pelo simples fato de que pode comprometer a justiça do campeonato. Explico: imagine que, das 18 corridas, o piloto A vença 9 e não complete nenhuma das outras 9. Enquanto isso, o piloto B ganha outras 8 corridas e chegue em segundo lugar em todas as outras 10. Nesse caso, seria justo que o piloto A seja o campeão? Eu também acho que não. Essa foi só uma combinação do que pode acontecer. Outras mais ou menos radicais podem mostrar o mesmo resultado.

Alguém pode dizer: "Ah, mas são as regras!". Calma lá! Sou um dos primeiros a valorizar as regras, desde que sejam as mesmas para todos os competidores, mas acho que tudo tem seu limite. Por que simplesmente não volta a se valorizar a vitória? Que passe a valer, 12, 13 ou até 15 pontos. Mas não concordo com duas coisas: 1) Que se deixe de lado a regularidade e 2)Que as regras sejam mudadas em espaços tão curtos de tempo. No futebol, os pontos corridos já se mostraram ser a forma mais justa para os campeonatos nacionais. O Brasil ficou inventando formas diferente de disputas por muito tempo, mas agora vem numa sequência de 7 anos com a mesma fórmula, a qual já está assimilidada pelos torcedores, que já perceberam as consequências positivas de um campeonato de pontos corridos.

É verdade que o campeonato de Fórmula 1 tende a ser disputado e emocionante da mesma forma, mas só o fato de se abrir uma possibilidade de que algum tipo de injustiça gritante aconteça já é motivo para que eu fique com um pé atrás.

OBS.: após publicar o post, recebi um e-mail do meu amigo Luciano Sobral, o "PJ", com o link para este comentário de Cláudio Carsughi sobre a mudança. Ele concorda comigo (na verdade, eu é que concordo com ele, que é o especialista), utilizando até um exemplo parecido.
.

NO LINE ON THE HORIZON

Há duas semanas venho intercalando minha trilha sonora diária com 2 álbuns: “Best Of The Beast” do Iron Maiden (afinal, estava no ritmo do show que aconteceu no último domingo) e o novo “No Line On The Horizon”, do U2. É sobre este último que vou comentar neste post.

Não costumo tirar conclusões sobre qualquer disco após ouvi-lo apenas uma vez. Gosto de ouvir algumas vezes para me acostumar e concluir se gostei ou não. Após ouvir “No Line On The Horizon”, décimo - segundo álbum de estúdio do U2, uma meia dúzia de vezes, cheguei à conclusão de que o U2, mais uma vez, mandou muito bem. Não vou chegar ao extremo de concordar com o Bono, que numa entrevista recente disse que se esse não for o melhor disco da carreira da banda, essa carreira teria sido irrelevante. Não, esse álbum não é o melhor da carreira da banda, mas sua carreira não passa nem perto de ser irrelevante. Aliás, muito pelo contrário.

Eu não seria louco de exigir um álbum melhor do que o anterior, o assustadoramente bom “How to Dismantle an Atomic Bomb” (2004), mas o nível ficou bem próximo, apesar de sons menos “comerciais”, do também muito bom “All That You Can’t Leave Behind” (2000), disco que retomou a volta da banda ao padrão estabelecido em “Acthung Baby” (1991) - que ao lado de “The Joshua Tree” (1987) são os meus favoritos. Esse padrão havia ficado meio perdido com os “experimentais” (não achei palavra melhor) “Zooropa” (1993) e “Pop” (1997).

Além de manter o padrão de sonoridade do U2 que estamos acostumados (leia-se tudo menos “Zooropa” e “Pop”, apesar de algumas faixas lembrarem também esses álbuns), “No Line On The Horizon” também pode ser encarado com uma síntese do que a banda fez nos últimos 18 anos. A faixa-título, que abre o álbum, poderia muito bem estar em “Achtung Baby”. A dançante “Magnificient” se encaixaria em “Pop” perfeitamente. “Fez – Being Born” e “Cedars of Lebanon” se destacariam em “Zooropa”. A música que está sendo usada para divulgação, “Get On Your Boots”, vem na mesma linha de “Vertigo”, “City Of Blind Lights” e “Beautiful Day”. E a minha favorita é a excelente “I’ll Go Crazy If I Don’t Go Crazy Tonight”. E as demais faixas fazem uma boa amarração, especialmente “Moment Of Surrender” e "Breathe”.

Estou curiosíssimo para ouvir “Get On Your Boots” e “Magnificient” ao vivo – ambas têm tudo para serem muito poderosas no palco. As datas da turnê já foram divulgadas, mas até agora nenhuma notícia sobre uma possível passagem pelo Brasil, pelo menos em 2009. Porém, dessa vez devo tirar proveito da expressão “se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé”: por uma felicíssima coincidência, estarei nas terras de Tio Sam ao mesmo tempo em que os irlandeses estarão passando por lá e já estou programando o encontro no Giants Stadium no dia 24 de setembro.

E, quem sabe, revê-los no Brasil, em 2010.

.

terça-feira, 17 de março de 2009

FINALMENTE... A FIGURINHA NÚMERO 1

"So understand
Don't waste your time always searching for those wasted years,
Face up...make your stand,
And realize you're living in the golden years.
"
Wasted Years, Iron Maiden


Em 1985 eu estava com 10 anos, na quarta-série e não sabia quase nada de música, muito menos de rock. Mas foi o ano do primeiro Rock In Rio e assistir a algumas daquelas apresentações, especialmente do Queen, do AC/DC e Iron Maiden, fez algum efeito significativo em mim. No mesmo ano, alguma editora lançou um álbum de figurinhas sobre bandas de rock. Virou uma febre no colégio. Todos os meninos começaram a colecionar (não tenho certeza, mas acho que o nome era "Hot Stamp"). Por alguma coincidência, uma das figurinhas mais difíceis de se conseguir e mais disputada era a primeira figurinha do álbum, a "Número 1". A figurinha em questão era uma foto do vocalista da primeira banda a ser apresentada pelo álbum. A banda? Iron Maiden. O tal vocalista? Bruce Dickinson. Depois de algum tempo acabei conseguindo a "Número 1" e acabei completando o álbum.

Passados alguns anos, em 1992 para ser mais preciso, eu já frequentava shows e o Iron Maiden se apresentaria no Brasil, no Estádio Palestra Itália. Era a chance de conferir a figurinha número 1 ao vivo. Por outra coincidência, acabei viajando para fazer a única coisa que gostava mais, na época, do que ouvir música: jogar basquete. Perdi o show. Mais alguns anos se passaram e Bruce Dickinson saiu da banda para seguir carreira solo e foi substituído por Blaze Bailey. Apesar de ter assistido a 2 shows com o novo vocalista, prefiro encarar essa fase como encaro Rocky V: é melhor fingir que nunca existiu. Felizmente, Bruce voltou. Por diversos motivos, acabei perdendo outros dois shows da banda no Brasil, em 2005 e 2008. Mas dessa vez não perdi.

Depois de 24 anos da "saga da figurinha número 1", finalmente pude assistir ao show da maior banda de Heavy Metal do mundo com o vocalista que fez história (o Paul Di'Anno que me desculpe, mas acho que a Ewing Theory se aplica para o Iron Maiden, assim como para o Van Halen).

Sobre o show, não poderia pedir mais. A turnê Somewhere Back In Time traz apenas clássicos (a música mais "nova" a ser tocada foi "Fear Of The Dark", que já tem quase 20 anos). Obviamente, sempre há aquelas que acabam ficando de fora, como "Heaven Can Wait", "Can I Play With Madness " e "The Clairvoyant" mas faz parte. Como reclamar do set list que traz na sequência "The Trooper" e "Wasted Years", ou "Run To The Hills" e "Fear Of The Dark", ou então "Hellowed Be Thy Name" e "Iron Maiden"? Ou um bis com "The Number Of The Beast", "The Evil That Men Do" e "Sanctuary"? Não dá pra reclamar, muito pelo contrário.

63.000 pessoas - o maior show da carreira do Iron Maiden, com exceção dos festivais.

Valeu a espera.

Só não posso deixar de registrar a indignação com a organização do show. A entrada e a saída eram feitas por apenas 1 portão. O show foi atrasado em 1 hora para que todos pudessem entrar no autódromo de Interlagos e, mesmo assim, começou com muita gente do lado de fora. A chuva que caiu no final da tarde de domingo transformou o gramado num verdadeiro lamaçal. E, após o show, demoramos quase uma hora para sair do local, pelo mesmo único portão de entrada, que nem aberto totalmente estava, graças a um cabo que ficou preso numa estrutura metálica de sinalização. Mais do que lamentável. Será muito difícil imaginar o quão melhor seria se houvessem várias saídas? Dando um exemplo extremo, 90.000 pessoas conseguiam sair totalmente do Ninho de Pássaro em Pequim, sem qualquer tumulto, em poucos minutos. O segredo? Múltiplas vias de acesso e saída. Já reclamamos do estádio do Morumbi com apenas 2 rampas para toda a arquibancada. Ontem passou dos limites.

.

sexta-feira, 13 de março de 2009

AFINAL, UM OU DOIS PASSOS?

Muita gente já tentou jogar basquete pelo menos uma vez na vida. Seja na escola, no clube ou em qualquer outro lugar. Diria que todo mundo já tentou bater bola e arremessar alguma vez. E, perguntando para qualquer pessoa qual é a regra básica do basquete, 3 coisas costumam ser imediatamente respondidas:
1. tem que jogar a bola na cesta
2. só pode movimentar a bola através de passes entre os jogadores ou driblando (driblar = bater bola)
3. um jogador só pode dar no máximo DOIS passos com a bola na mão.

Simples, não? Calma lá! Essa história dos DOIS PASSOS é uma das maiores lendas da história do esporte de lazer. Quem se aprofunda um pouco mais na brincadeira acaba descobrindo em algum momento que, ao receber a bola com os dois pés plantados no chão, pode mover o primeiro e, se mover o segundo, terá cometido uma infração – sim, você “andou”, pois “mexeu o pé-de-apoio” (aposto que muitos já ouviram essa frase). O que isso quer dizer? Isso mesmo... quer dizer que, ao estar segurando a bola, só é permitido dar um único passo!

Aí me perguntam: mas e na “bandeja”? Na “bandeja” (ou “lay up” para os americanos), se observarmos atentamente, o primeiro passo é dado antes que o jogador esteja segurando a bola com as duas mãos. Como tudo acontece muito rapidamente, a impressão é que são dois passos com a bola nas mãos.

A seguir, apresento o que diz a regra oficial da Confederação Brasileira de Basquetebol (a qual imagino estar alinhada com a regra da FIBA):

___________________________________________________________
Art. 25 Andar

25.1 Definição

25.1.1 Andar é um movimento ilegal de um ou ambos os pés além dos limites descritos neste artigo, em qualquer direção, enquanto segurando uma bola viva em quadra.

25.1.2 Um movimento de pivô é um movimento legal em que o jogador que está segurando uma bola viva em quadra dá um passo para um ou mais direções com o mesmo pé, enquanto o outro pé, chamado de pé-de-pivô, fica sempre no mesmo ponto e em contato com o piso.

25.2 Regra

25.2.1 Estabelecendo o pé-de-pivô para um jogador que segura uma bola viva em quadra:
•Enquanto em pé com ambos os pés na quadra:
- No momento que um pé é levantado, o outro se torna o pé-de-pivô.
•Enquanto se movendo ou driblando:
- Se um pé está tocando a quadra, aquele torna-se o pé-de-pivô.
- Se ambos os pés estiverem fora da quadra e o jogador cai com ambos os pés simultaneamente, no momento que um dos pés é levantado, o outro pé torna-se o pé-de-pivô.
- Se ambos os pés estão no ar e o jogador cai com um dos pés, então aquele pé torna-se o pé-de-pivô. Se um jogador pular em um dos pés e cai com ambos os pés simultaneamente, então nenhum pé é o pé-de-pivô.

25.2.2 Jogador progredindo com a bola depois de ter estabelecido um pé-de-pivô tendo o controle de uma bola viva em quadra:

•Enquanto tiver ambos os pés na quadra:
- Para iniciar o drible, o pé-de-pivô não pode ser levantado do piso antes da bola sair da(s) mão(s).
- Para passar ou fazer um arremesso a cesta, o jogador pode pular do pé-de-pivo, mas nenhum pé pode voltar ao piso antes que a bola seja solta da(s) mão(s).
•Em movimento ou driblando:
- Para iniciar um drible, o pé-de-pivô não pode ser levantado antes que a bola seja solta da(s) mão(s).
- Para passar ou arremessar a cesta, o jogador pode pular do pé-de-pivo e cair em um ou dois pés simultaneamente, mas depois disto, nenhum pé pode voltar ao piso antes que a bola seja solta da(s) mão(s) do jogador.

•Parando quando nenhum dos pés é o pé-de-pivo:
- Para iniciar um drible, nenhum pé pode ser levantado do piso antes que a bola seja solta da(s) mão(s).
- Para passar ou arremessar a cesta, um ou ambos os pés podem ser levantados do piso, mas não podem voltar ao piso antes que a bola seja solta da(s) mão(s).

__________________________________________________

Muito complicado? Resumindo: com a bola nas mãos, somente se pode mover um dos pés. Se mover o outro, dançou, ou melhor, andou.

Por que estou tocando nesse assunto? Porque na semana passada me deparei com um artigo do Blog Truehoop que traz à tona uma realidade que vem acontecendo a um bom tempo na NBA: essa regra, talvez a mais básica do basquete, vem sendo deixada de lado em muitos casos pela arbitragem. Observem, como exemplo, o vídeo que ilustra o artigo do Truehoop: no lance em questão, Dwyane Wade dribla até a linha do lance-livre, faz um giro, no meio do qual segura a bola – o lance é rápido, mas ele pega a bola entre os dois passos do giro. Até aí, tudo bem. Porém, ele ainda dá mais um passo em direção à cesta e sofre a falta. E a arbitragem, ao invés de marcar a andada, marca a falta!

Esse lance serviu de exemplo, na matéria, para uma conversa entre o autor e o vice-presidente da NBA para arbitragem. O dirigente insiste que não houve irregularidade no lance e, pior, mostra uma interpretação errada da regra: diz que foram dois passos legais após ter segurado a bola. Chega a dizer (é o título da matéria), que eles não usam o livro de regras como referência.

Outro exemplo: vejam o vídeo a seguir:



Esse lance definiu uma partida de playoffs. Podemos ver claramente que Lebron James deu pelo menos dois passos depois de segurar a bola. Os árbitros? Nada...

Outro exemplo – Kobe Bryant:



Basta ir ao Youtube e digitar “traveling”. Aparecerão vídeos aos montes. Digitem “crab drible” e surgirá uma coleção de vídeos do Lebron James – o assunto vem sendo amplamente discutido na NBA.

Uma das conclusões da matéria é que isso seria feito para favorecer o atacante e aumentar a pontuação dos jogos. Coitados dos defensores... como se já fosse fácil tentar parar Kobe, Lebron ou D-Wade dentro das regras, ainda são obrigados a tentar parar com a arbitragem colaborando contra.

É mais ou menos o que acontece no futebol em relação ao impedimento. A FIFA orienta os árbitros e (especialmente) os auxiliares a deixarem o jogo seguir caso tenham dúvidas em relação ao lance – tudo em prol do ataque. Mas na prática o que se observa é que os bandeirinhas, na maioria das vezes, fazem exatamente o contrário: marcam impedimento o tempo todo, parece que enfaixaram o braço. Às vezes, a marcação é correta, como aconteceu TRÊS VEZES na final do Mundial de clubes da FIFA de 2005 entre São Paulo e Liverpool: nas três marcações de impedimento do ataque inglês o auxiliar estava correto por poucos centímetros. Sorte para nós, agora tricampeões mundiais. Mas, se ele tivesse deixado o lance seguir, estaria cumprindo a determinação da FIFA, e não poderia ser acusado de erro. Outro exemplo comum, também no futebol, é o agarra-agarra que acontece na grande área em TODOS os cruzamentos de bola parada. Ninguém nunca marca nada. Até onde eu sei, também está na regra.

Meu ponto é: se está na regra, que seja seguido. Hoje vemos lances nos quais jogadores de basquete conseguem partir da linha de 3 pontos e chegar até a cesta sem sequer dar um único drible na bola. Estamos falando, no caso do basquete, de uma das regras mais básicas do jogo – é quase a sua essência. Já se fala até em oficializar a possibilidade dos 2 passos APÓS pegar a bola. Acreditem, parece pouco, mas mudaria completamente a mecânica do jogo.

Fica a discussão. Deixo a seguir os links do TrueHoop com as 5 partes do estudo. Especialmente para os basqueteiros, recomendo:

1: Introduction: A basic rule, yet a mystery.
2: NBA Executive: "We really don't reference the rulebook."
3: NBA players on video: What's the rule?
4: Why traveling is tough to call.
5: Rewrite the rule.

.