sábado, 3 de janeiro de 2009

LET ME TELL YOU A STORY

Enquanto passava a última semana no litoral sul da Bahia (ao lado a belíssima Praia do Espelho, em Curuípe) para a virada do ano e tentando, entre outras coisas, perder um pouco da "cor de palmito", li o excelente "Let Me Tell You a Story - A Lifetime in the Game", de John Feinstein e Red Auerbach, este último o legendário técnico dos Boston Celtics nos anos 50 e 60, nove vezes campeão da NBA (recorde empatado por Phil Jackson em 2002), sendo 8 títulos consecutivos (1957 e 1959-1966). O livro foi escrito a partir das histórias contadas pelo próprio Red em almoços semanais para os quais um seleto grupo era convidado, sempre às terças-feiras, em um restaurante chinês chamado China Doll em Washington. John Feinstein tornou-se um dos convidados frequentes e lançou o livro em 2004.

O livro pode ser considerado, além de uma biografia de Red, um tributo àquele que provavelmente é a pessoa mais importante da história da NBA que não foi jogador. A leitura é deliciosa, considerando que grande parte traz as próprias narrativas de Red, contando histórias e emitindo opiniões sobre diversos temas dentro do basquete, tanto universitário, como profissional e até mesmo o olímpico. Além de técnico, foi General Manager do Boston Celtics entre 1967 e 1984, quando se tornou presidente da franquia.

Red Auerbach foi um daqueles que ajudou a lançar a primeira liga profissional de basquete dos Estados Unidos, que se tornaria a NBA. Foi o primeiro técnico a escalar 5 jogadores negros em quadra - e o fez não para demonstrar algo numa época em que ainda havia segregação racial, fez porque era o que lhe daria a "melhor chance para vencer". Era sempre sobre vencer. Assim ele construiu a dinastia dos Boston Celtics, time que assumiu em 1950 e só conquistou o primeiro título em 1957, quando conseguiu a peça que faltava para transformar o time em vencedor: Bill Russel. Aliás, a transação que tornou possível obter Bill Russel é uma história fantástica a parte: os Celtics tinham direito à terceira escolha no draft. Trocou de posição com o St Louis Hawks enviando 2 jogadores em troca: Ed Macauley e Cliff Hagan. Mas, para conseguir o número 1 do draft, que era de Rochester, deu em troca um semana de apresentação do grupo Ice Capades, cujo presidente era o dono dos Celtics. Anos depois, ao deixar o posto de técnico, lançou como substituto o primeiro técnico negro da história da NBA, o próprio Bill Russel.

E através da busca constante pelos melhores jogadores contruiu times vencedores atrás de times vencedores, contando até com um pouco de sorte ao obter Bob Cousy contra sua vontade. Mas foi o responsável por juntar Russel e Havlicek e, mais tarde, Larry Bird, Kevin McHale e Robert Parish. Dessa forma, foram 16 títulos entre 1957 a 1986 - isso mesmo, mais de 50% dos títulos nesse intervalo de 30 anos da NBA.

Até mesmo as histórias que contam como os Celtics judiavam dos Lakers nos anos 60, quando nem mesmo Wilt Chamberlain, o jogador mais dominante da história, não conseguia superar Bill Russel, são uma leitura prazerosa. Red Auerbach morreu em outubro de 2006, aos 89 anos. Deixou como marca registrada o charuto da vitória, que fumava orgulhoso após cada conquista (na época de técnico o fazia ainda no banco de reservas).

Para terminar, transcrevo abaixo o início do meu capítulo favorito do livro, quando Red fala dos técnicos do passado e do presente. A lição é muito simples: você pode ser o melhor técnico no mundo, mas sem os bons jogadores, não vai ganhar nada. Ele não venceria nada sem Russel ou Bird. Phil Jackson não venceria nada sem Jordan ou Shaq e Kobe.

"Coaches today drive me just a little bit crazy. When I hear one of them say after a game that he's going to have a look at the film to figure out what happened, I bust out laughing. I mean, who do they think they're kidding? You lose a game, you know exactly why you lost the game. You know who screwed up, and if you don't, you shouldn't be coaching in the first place. When I coached, we didn't have film or tape or anything like that. You think I didn't know who could play and who couldn't play? These guys today want you to believe that what they're doing is some kind of science. Coaching is simple: you need good players who are good people. You have that, you win. You don't have that, you can be the greatest coach who ever lived and you aren't going to win".
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