terça-feira, 23 de junho de 2009

E AGORA, TRICOLOR?

Decidi esperar alguns dias para digerir mais uma desclassificação na Libertadores, a quarta nos últimos 4 anos. Não queria fazer julgamentos precipitados, especialmente em relação a Muricy. Ele esteve à frente do time nas 4 derrotas (final para Inter em 2006, oitavas-de-final para o Grêmio em 2007, quartas-de-final para o Fluminense em 2008 e agora, mais uma vez nas quartas-de-final, para o Cruzeiro, em 2009). E o mundo sãopaulino (torcida + dirigentes) colocam a Libertadores acima de qualquer outro objetivo ou resultado, considerando o que os 3 títulos já conquistados representaram para todos nós. No sábado acordei com a notícia de que Muricy não é mais o técnico do São Paulo. A pressão foi demais até sobre o todo poderoso Juvenal Juvêncio, presidente do clube, que bancara a permanência do técnico em situações semelhantes em 2007 e 2008.

É fato que o time desse ano não conseguiu demonstrar nada de especial até agora. E a expectativa era muito grande, já que o time conquistou o tricampeonato brasileiro em dezembro, não perdeu nenhum jogador e ainda trouxe vários reforços de bom nível (Arouca, Washington, Junior César, Wagner Diniz, Renato Silva, Eduardo Costa). Mas dentro de campo o resultado não apareceu. E Muricy começou o ano com o raciocínio certo, mantendo a base do ano passado. Aos poucos procurou incorporar os novos jogadores: Renato Silva ganhou com méritos a posição de Rodrigo na zaga e Washington assumiu o comando do ataque (volto a ele depois). Wagner Diniz não conseguiu se firmar na lateral direita e já foi emprestado para o Santos, Junior César participou de forma tímida na lateral esquerda, bem diferente do que jogou no ano passado pelo Fluminense – cada vez que ele arrancava pela esquerda nos jogos contra o São Paulo era um deus-nos-acuda. E Arouca passou a maior parte do tempo no banco de reservas.

Ao mesmo tempo, os jogadores que se destacaram no ano passado, por algum motivo, caíram de rendimento, especialmente Hernanes e Jorge Wagner. Como seria possível que eles simplesmente se esquecessem do “como se faz”? Alguns dizem que, com a entrada de Junior César no time para jogar pela ala, Jorge Wagner foi para o meio de campo e não se adaptou. Confesso que não entendo: como é possível conseguir um desempenho inferior tendo mais liberdade de movimentação e mais espaço para jogar, ao invés de ficar restrito a uma faixa do campo? E o Hernanes, que foi “apenas” o melhor jogador do campeonato brasileiro de 2008 (nosso MVP)? Não concordo com aqueles que dizem que ele é apenas um volante e ao ser avançado para a meia (ganhou o direito de usar a camisa 10) saiu de sua posição, pois no ano passado ele já executava essa função praticamente da mesma forma. A única explicação que vejo é sua desmotivação por não ter conseguido a transferência para a Europa. Em meados de 2008, foi divulgado que o Barcelona chegou com uma proposta de 15 milhões de Euros, mas a direção do São Paulo se recusou a negociar por esse valor (a multa rescisória era de 25 milhões de Euros). Com isso, era esperado que o jogador finalizasse o campeonato brasileiro jogando no Brasil, fosse ainda mais valorizado e fosse vendido pelo valor da multa, afinal, o São Paulo também depende da receita da venda de jogadores. A parte do bom desempenho e da conseqüente valorização até que funcionaram, mas ninguém contava com a crise financeira, que fez com que o mercado do futebol seguisse a tendência mundial e reduzisse as transferências. E, de repente, o sonho certo de garantir os altos salários do futebol europeu não vingou e o jogador se desmotivou. Não consigo achar outra explicação.

Já falei de quase todas as contratações (falta uma) e dos dois jogadores de criação do time. E como não levar em conta tudo que aconteceu com Rogério Ceni? Mesmo considerando que, quando a contusão ocorreu, ele vinha apresentando uma seqüência de falhas, sua ausência representou MUITO para o desempenho do time: a liderança dentro de campo, o comando, a reposição de bola, a forma como o sistema defensivo jogava sabendo que podia contar com mais uma opção de passe. Não venham me dizer que o peso de tudo isso é pouco.

E tem o Washington. O primeiro a questionar sua contratação foi meu amigo Danilo Bessa, o Batata. Não demorei muito para concordar com ele. O primeiro efeito foi a queda do rendimento de Borges. E todos se lembram do que Borges representou nos jogos finais de campeonato brasileiro. Washington ocupava a mesma faixa no campo, nos jogos que assisti no Morumbi era evidente que um estava atrapalhando a colocação do outro. Sua condição técnica é questionável: tem dificuldades para matar uma bola, não consegue criar alguma jogada. Limita-se a concluir quando a bola chega redonda e em condições de ser concluída. Mas o que mais me deixava nervoso em relação ao Washington era sua atitude dentro de campo: ele é incapaz de correr atrás de uma bola quando o passe não é preciso, demora para voltar após um ataque mal concluído, ficando em posição de impedimento – e pior, não só volta devagar como volta reclamando dos outros. Não me interessa se ele foi artilheiro e ídolo nos clubes por onde passou (Ponte Preta, Atlético-PR, Fluminense, etc). Outros artilheiros de times medianos (Josiel, Souza, Maicossuel, etc) não vingaram em times grandes. Ele não era e não é jogador para o São Paulo. Nesse ponto discordo de meu amigo Dante, que joga a responsabilidade para o Muricy por não saber aproveitá-lo com os outros clubes o faziam. E, durante esse período, criou polêmicas também fora de campo. Primeiro com o Dagoberto, reclamando por não receber a bola como achava que deveria. Depois que ele começou a externar suas reclamações, os outros, obviamente, se viram no mesmo direito: primeiro Borges e depois até o André Lima! Meu Deus! Quando o André Lima começa a externar sua insatisfação com o banco, é porque temos um problema. Senhoras e senhores, o São Paulo Futebol Clube de 2009!

E chegamos ao Muricy. O técnico que nos últimos 3 anos conseguir “apenas” ganhar 3 campeonatos brasileiros (o mesmo número de títulos que o time havia ganhado nos 35 anos anteriores). Nenhum outro time no Brasil conseguiu vencer o campeonato brasileiro 3 vezes seguidas na era pós-1971. Isso é muita coisa! Em contrapartida, foram 4 derrotas seguidas na Libertadores, como comentei no começo desse texto. Mas vamos pensar o seguinte:

a) Qual time brasileiro tem retrospecto melhor desde 2006? Nenhum. O que mais se aproxima é o Internacional campeão da Libertadores e do Mundial em 2006.
b) Qual o outro time brasileiro tem 3 títulos de Libertadores? Grêmio e Cruzeiro podem chegar a esse número nesse ano, mas nenhum dos dois pode chegar a 3 títulos Mundiais.
c) Quantos times das Américas conseguiram ganhar a Libertadores em quantidade e freqüência maior do que o São Paulo nos últimos 20 anos? Só consigo pensar no Boca Juniors.

Meu ponto é o seguinte: o São Paulo poderia ter desempenhos melhores em Libertadores nas últimas 4 edições, é verdade, mas, historicamente, quem consegue? Numa ótima entrevista que deu para a Rádio Bandeirantes pouco antes do jogo contra o Cruzeiro, o Superintendente Marco Aurélio Cunha disse que o “normal” numa Libertadores é NÃO GANHÁ-LA! E é a mais pura verdade! Tem uma frase que eu costumo usar para alfinetar os amigos palmeirenses e corinthianos: “nós que já ganhamos a Libertadores 3 vezes sabemos como é difícil ganhá-la. Os palmeirenses, que só conseguiram ganhar uma vez, sabem ainda mais. E os corinthianos, que numa ganharam, têm certeza disso”. Ficamos chateados (para não usar outro adjetivo) pela derrota? Obviamente! É o fim do mundo? É claro que não!

Porém...

O desempenho do time ao longo desse ano deixou muito a desejar, sem dúvida. E é óbvio que o técnico tem sua parcela de responsabilidade. Esperava-se que, após a eliminação no campeonato paulista, o time finalmente conseguiria tempo para treinar e até para fazer a pré-temporada que não conseguiu fazer em janeiro. Esperava-se que, na volta de quase 20 dias parados, mostraria-se consistência técnica e tática. Não aconteceu. O Muricy ainda tentou diversas formações e mesmo assim nenhuma funcionou.

Particularmente, não consigo entender a insistência de se jogar com 3 zagueiros. Em 2005 isso foi plenamente justificável, pois já naquele ano o time não possuía um meia de criação (o Danilo era um terceiro atacante). Com Mineiro e Josué fazendo aquela dupla histórica e o restante do ataque formado primeiro por Grafite e Luizão, depois por Luizão e Amoroso e que terminou o ano com Amoroso e Aloísio, tinha como responsáveis pela armação os dois laterais: Cicinho e Junior. Em 2006, a mesma fórmula, com Souza e Junior. Em 2007, já era Souza e Jorge Wagner. Em todas as situações, a presença do terceiro zagueiro era mais que justificadda, especialmente em 2005 e 2006, quando o terceiro zagueiro era Diego Lugano, especialista na função. Mas agora? Com laterais que não estão conseguindo jogar bem, André Dias e Miranda numa fase sensacional e uma porção de meias e volantes à disposição? Por que não formar o time no tradicional 4-4-2, com os dois zagueiros, mais Zé Luis (melhor na marcação do que no apoio) e Junior Cesar (que não apóia mais como antes)? E teríamos 5 jogadores de bom nível (Hernanes, Jean, Jorge Wagner, Arouca e Eduardo Costa) para formar o meio campo. Nada mal, não? Um deles acabaria na reserva, e se juntaria ao Hugo como boas opções, dependendo da necessidade. Ainda temos a chegada do Marlos, que parece promissor, e os garotos Oscar e Wellington que também já demonstraram potencial. Com Borges no ataque, temos um bom elenco, não? Tenho muitas restrições ao Dagoberto, jogador do “quase gol”, mas ainda o prefiro em relação Washington.

Mas, mesmo que se encontre uma nova disposição tática que no papel pareceria ideal, ainda concordo com o Batata, que diz que o principal no futebol é a execução. E volto aos comentários que fiz sobre os jogadores: Hernanes parou de jogar, Jorge Wagner perdeu a precisão nos passes e lançamentos (até escanteio começou a errar demais), os reforços não vingaram. Faço dois paralelos com o basquete: escrevi em janeiro sobre um livro que li sobre o lendário Red Auerbach e cheguei a citar uma citação sua no livro: “Coaching is simple: you need good players who are good people. You have that, you win. You don't have that, you can be the greatest coach who ever lived and you aren't going to win”. (“Ser técnico é simples: você precisa de bons jogadores, que são boas pessoas. Você os tem, você vence. Se você não os tem, você pode ser o melhor técnico da história e você não vai vencer”). Ele só conseguiu vencer um campeonato depois de 7 anos no comando dos Celtics, exatamente quando Bill Russel chegou ao time. Nem precisamos ir aos anos 50 e 60: há uma semana Phil Jackson conquistou seu 10º título na NBA, superando a marca de Red: nesse ano ele tinha um elenco de verdade para ajudar Kobe Bryant. Em 2005, não tinha um elenco forte e o time nem chegou aos playoffs. Isso o torna um técnico pior ou melhor? Óbvio que não!

E entendo que o mesmo se aplica ao agora ex-técnico do São Paulo: se os jogadores não “ajudam”, não tem como vencer. Não é nada anormal não ganhar a Libertadores, mesmo em participações consecutivas. E ELE ACABOU DE GANHAR O TERCEIRO CAMPEONATO BRASILEIRO CONSECUTIVO! Isso é MUITA coisa! E, após perder a quarta Libertadores seguida, é demitido. Até entendo que havia desgaste e que algumas situações “obscuras” poderiam estar acontecendo no elenco. Após a derrota para o Cruzeiro ele mesmo parecia desanimado e com expressão de que não saberia como reverter a situação para o restante da temporada. Mas não concordo com a demissão. Ainda mais para trazer alguém como Ricardo Gomes, que não tem nenhum currículo que mereça destaque – não consigo ver uma única qualidade que justifique sua contratação para o lugar de Muricy.

Vamos pensar em mais alguns pontos:

1) Qual a maior qualidade de Muricy nos últimos anos? A disputa para o campeonato brasileiro. E qual o campeonato que sobrou para esse ano? Que coisa, o campeonato brasileiro! E o demitem agora?
2) A maior parte da torcida o apóia: seu nome foi cantado ao final do jogo do Cruzeiro, mesmo com a derrota.
3) Os adversários estão adorando a demissão, pois sabem que ele era um diferencial em favor do São Paulo.
4) Ele já o primeiro nome na lista de substituição de qualquer técnico que esteja minimamente pressionado: Wanderley Luxemburgo, Tite, Wagner Mancini, Cuca, é só escolher.

Como abrir mão de um cara desses? Sou obrigado a usar a mesma expressão de alguns dias atrás: minha cabeça dói.

Infelizmente, é mais fácil trocar uma única peça (o técnico) do que muitas (os jogadores, patrimônio do clube). E não vou me surpreender se a peça trocada consiga, no final do ano, conquistar seu quarto título brasileiro consecutivo, agora pelo colorado gaúcho.

Obrigado por tudo, Muricy! Obrigado pelo tricampeonato. Obrigado pelas entrevistas folclóricas após os jogos. Obrigado pelas entrevistas históricas nos DVD’s dos 3 títulos. E espero vê-lo de volta algum dia... de preferência em breve.

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3 comentários:

Danilo disse...

Espetacular. Não mudaria uma vírgula.
Quer dizer, talvez o estilinho pergunta-e-resposta em uns 2 ou 3 lugares, a la Reinaldo Azevedo. haha
Até breve Muricy. Gritaremos 'é campeão' de novo...
Abs
Batata

Unknown disse...

Impagável!!!

Estou com vontade de ir nos jogos só pra gritar "volta Muricy" "fora W9" "fora Ricardo Gomes" hahhahah

Perfeita análise, só esqueceu de falar do eduardo costa, um bom jogador mas que é infinitamente inferior ao monstro Jean (melhor do são paulo no ano)

abraços

Mateus

Fábio Cassiano Calzzetta disse...

Beleza Ronalt.

Vou comentar aqui como corintiano, como eu sou, para vc entender a burrada que a diretoria do São Paulo fez.
Mandar o Muricy embora me deixou tão feliz, que agora tenho a certeza que teremos um adversário a menos no Brasileirão. E digo mais, com Ricardo Gomes, o São Paulo não fica nem entre os quatro.
Washington não é centroavante para o São Paulo. De bate pronto, fale um título que ele ganhou, ou melhor, que ajudou seu clube a ganhar? Nenhum. Como um cara desses pode vestir a camisa do São Paulo? O que ocorre, é que não é de hoje, que as contratações do São Paulo são equivocadas. Apesar das desse ano ter sido melhores do que as dos anos anteriores, mas mesmo assim não corresponderam. Não ter vendido Hernanes no começo do ano foi outro erro. Deveria ter feito caixa, por que agora ele não esta jogando nada.
Enfim, como corintiano eu fico muito feliz por tudo que vem acontecendo no Morumbi. Como amante do futebol, fico inconformado com as atitudes da diretoria do São Paulo e de forma que tratou um técnico como Muricy. E como escrevi no meu blog. E só ele esperar, que no ano que vem estará de volta ao Morumbi.
Um abraço