quarta-feira, 1 de outubro de 2008

ANÁLISE DO QUADRO DE MEDALHAS

Para (finalmente!) finalizar os posts sobre os Jogos Olímpicos de Pequim, gostaria de fazer algumas observações sobre a questão do quadro de medalhas. O fato é que oficialmente, não existe uma competição entre países definida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) – nunca houve declaração de que “o país campeão dos Jogos Olímpicos é: _____”. Porém, todos costumam apresentar o quadro de medalhas como se fosse uma classificação dos jogos, o que os países levam muito a sério. Vejam o caso da China: fez um mega investimento nos atletas para, em casa, conquistar mais medalhas de ouro do que os Estados Unidos, missão cumprida com folgas (51x36).

Porém, nem sempre o critério “maior número de medalhas de ouro” é o critério considerado. Os próprios americanos (possivelmente por conveniência) utilizam o critério de maior número de medalhas conquistadas, o que os colocariam à frente dos chineses nos jogos de 2008 (110x100).

Qual é o melhor critério (por melhor, entende-se mais justo e que realmente indica qual país tem o melhor desempenho esportivo)? A discussão é complicada e dificilmente se chega a alguma conclusão. Levando em conta o caso de considerar o maior número de medalhas, podemos utilizar um exemplo extremo de que um país que conquiste 20 medalhas de bronze possa ser colocado à frente de um país que tenha conquistado 19 medalhas de ouro. Justo? Óbvio que não! Por outro lado, lembremos das Olimpíadas de Sidney, quando o Brasil terminou no quadro de medalhas com 6 medalhas de ouro e 6 medalhas de bronze, ficando atrás (no critério de maior número de ouros) de Moçambique, Colômbia e Camarões, que tiveram uma única medalha de ouro cada. Também é óbvio que o desempenho do Brasil foi melhor.

Meu amigo Balu (ele de novo!) fez uma análise bem completa e detalhada - RECOMENDO A LEITURA! - de diversos critérios sugeridos mundo afora. Há sugestões até de medalhas em relação ao PIB, área ou população de cada país – tudo para relativizar e tentar equilibrar as desigualdades das diferentes grandezas. Apesar de interessantes para determinadas análises, não os considero relevantes do ponto de vista esportivo – onde o que interessa é realmente quem tem mais conquistas. Dos critérios que mexem com o número de medalhas, destaco 2 possibilidades:

1) Dar pesos diferentes para as medalhas poderia ser uma saída – como peso 5 para as medalhas de ouro, 2 para as de prata e 1 para as de bronze. Só seria necessário tentar definir (se é que isso é possível) quantas pratas equivalem a um ouro e quantos bronzes equivalem a uma prata ou a um ouro. Os pesos 5, 2 e 1, respectivamente, parecem bem razoáveis,talvez podendo ser 7, 2 e 1 - acho importante valorizar os campeões olímpicos.

2) Considerar o total de atletas medalhistas. Nesse caso, os Estados Unidos levaram vantagem em Pequim, com 125 atletas dourados contra 74 da China. Essa idéia valoriza com certa justiça as modalidades coletivas. Exemplificando: o Brasil teve 1 medalha de ouro computada para o César Cielo, que para conquistá-la (de forma mais do que brilhante, emocionante e merecida, é bom frisar), precisou nadar uma eliminatória, uma semifinal e a final. Já o Vôlei Feminino, que também teve computada UMA medalha de ouro, precisou de 12 atletas disputando 8 jogos ao longo da competição. Temos 2 campeões olímpicos? É verdade que comparar regras e formas de disputa de modalidades diferentes é complicado, mas, no meu modo de ver, são 13 campeões olímpicos. Outro exemplo: Michael Phelps teria 8 ouros para si, mas os Estados Unidos teriam computados 14 ouros, considerando os 2 revezamentos. Aí me perguntam: pô, mas só no futebol seriam 18? Já disse antes que, na minha opinião, futebol não combina com Olimpíadas, e espero que a FIFA decida retirar a modalidade dos jogos.

O que eu não gosto é utilizar, para as Olimpíadas, o critério que competições universitárias utilizam, no qual cada modalidade tem o mesmo peso. Nesse caso, o Atletismo, com todas as suas 47 medalhas de ouro, seria considerado equivalente ao basquete, por exemplo, com apenas 2. Aí já seria socializar demais a coisa e mascarar a realidade. Vejam esse modelo elaborado no UOL Tablóide. Imagino meus pais tentando interpretar e acompanhar esse raciocínio.

Concluindo, num mundo perfeito, entendo que poderíamos ter um misto de critérios: peso para cada tipo de medalha, mas considerando o número de atletas de cada conquista. Mas a compreensão por boa parte da população (sem preconceito) não seria das mais fáceis. Isso seria um problema? Talvez... o povo brasileiro já tem que conviver com um sistema eleitoral para o legislativo que é muito mais complicado. Então, por que não?

Enquanto isso, entendo que o principal é que cada país faça uma análise criteriosa do seu desempenho, ao contrário do que fez o Sr. Carlos Arthur Nuzman. Que interpretou o resultado brasileiro cada hora com um critério diferente para tentar justificar um discutível sucesso nos jogos. Usou o critério total de medalhas para indicar que o Brasil ficou em 17º, com 15 medalhas, mas usou o critério maios número de ouros para dizer que ficamos na fente de Cuba (3 ouros contra 2 dos cubanos, mas 15 medalhas contra 24 dos cubanos na soma total), entre outras distorções. Beira ao ridículo.

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