sexta-feira, 13 de março de 2009

AFINAL, UM OU DOIS PASSOS?

Muita gente já tentou jogar basquete pelo menos uma vez na vida. Seja na escola, no clube ou em qualquer outro lugar. Diria que todo mundo já tentou bater bola e arremessar alguma vez. E, perguntando para qualquer pessoa qual é a regra básica do basquete, 3 coisas costumam ser imediatamente respondidas:
1. tem que jogar a bola na cesta
2. só pode movimentar a bola através de passes entre os jogadores ou driblando (driblar = bater bola)
3. um jogador só pode dar no máximo DOIS passos com a bola na mão.

Simples, não? Calma lá! Essa história dos DOIS PASSOS é uma das maiores lendas da história do esporte de lazer. Quem se aprofunda um pouco mais na brincadeira acaba descobrindo em algum momento que, ao receber a bola com os dois pés plantados no chão, pode mover o primeiro e, se mover o segundo, terá cometido uma infração – sim, você “andou”, pois “mexeu o pé-de-apoio” (aposto que muitos já ouviram essa frase). O que isso quer dizer? Isso mesmo... quer dizer que, ao estar segurando a bola, só é permitido dar um único passo!

Aí me perguntam: mas e na “bandeja”? Na “bandeja” (ou “lay up” para os americanos), se observarmos atentamente, o primeiro passo é dado antes que o jogador esteja segurando a bola com as duas mãos. Como tudo acontece muito rapidamente, a impressão é que são dois passos com a bola nas mãos.

A seguir, apresento o que diz a regra oficial da Confederação Brasileira de Basquetebol (a qual imagino estar alinhada com a regra da FIBA):

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Art. 25 Andar

25.1 Definição

25.1.1 Andar é um movimento ilegal de um ou ambos os pés além dos limites descritos neste artigo, em qualquer direção, enquanto segurando uma bola viva em quadra.

25.1.2 Um movimento de pivô é um movimento legal em que o jogador que está segurando uma bola viva em quadra dá um passo para um ou mais direções com o mesmo pé, enquanto o outro pé, chamado de pé-de-pivô, fica sempre no mesmo ponto e em contato com o piso.

25.2 Regra

25.2.1 Estabelecendo o pé-de-pivô para um jogador que segura uma bola viva em quadra:
•Enquanto em pé com ambos os pés na quadra:
- No momento que um pé é levantado, o outro se torna o pé-de-pivô.
•Enquanto se movendo ou driblando:
- Se um pé está tocando a quadra, aquele torna-se o pé-de-pivô.
- Se ambos os pés estiverem fora da quadra e o jogador cai com ambos os pés simultaneamente, no momento que um dos pés é levantado, o outro pé torna-se o pé-de-pivô.
- Se ambos os pés estão no ar e o jogador cai com um dos pés, então aquele pé torna-se o pé-de-pivô. Se um jogador pular em um dos pés e cai com ambos os pés simultaneamente, então nenhum pé é o pé-de-pivô.

25.2.2 Jogador progredindo com a bola depois de ter estabelecido um pé-de-pivô tendo o controle de uma bola viva em quadra:

•Enquanto tiver ambos os pés na quadra:
- Para iniciar o drible, o pé-de-pivô não pode ser levantado do piso antes da bola sair da(s) mão(s).
- Para passar ou fazer um arremesso a cesta, o jogador pode pular do pé-de-pivo, mas nenhum pé pode voltar ao piso antes que a bola seja solta da(s) mão(s).
•Em movimento ou driblando:
- Para iniciar um drible, o pé-de-pivô não pode ser levantado antes que a bola seja solta da(s) mão(s).
- Para passar ou arremessar a cesta, o jogador pode pular do pé-de-pivo e cair em um ou dois pés simultaneamente, mas depois disto, nenhum pé pode voltar ao piso antes que a bola seja solta da(s) mão(s) do jogador.

•Parando quando nenhum dos pés é o pé-de-pivo:
- Para iniciar um drible, nenhum pé pode ser levantado do piso antes que a bola seja solta da(s) mão(s).
- Para passar ou arremessar a cesta, um ou ambos os pés podem ser levantados do piso, mas não podem voltar ao piso antes que a bola seja solta da(s) mão(s).

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Muito complicado? Resumindo: com a bola nas mãos, somente se pode mover um dos pés. Se mover o outro, dançou, ou melhor, andou.

Por que estou tocando nesse assunto? Porque na semana passada me deparei com um artigo do Blog Truehoop que traz à tona uma realidade que vem acontecendo a um bom tempo na NBA: essa regra, talvez a mais básica do basquete, vem sendo deixada de lado em muitos casos pela arbitragem. Observem, como exemplo, o vídeo que ilustra o artigo do Truehoop: no lance em questão, Dwyane Wade dribla até a linha do lance-livre, faz um giro, no meio do qual segura a bola – o lance é rápido, mas ele pega a bola entre os dois passos do giro. Até aí, tudo bem. Porém, ele ainda dá mais um passo em direção à cesta e sofre a falta. E a arbitragem, ao invés de marcar a andada, marca a falta!

Esse lance serviu de exemplo, na matéria, para uma conversa entre o autor e o vice-presidente da NBA para arbitragem. O dirigente insiste que não houve irregularidade no lance e, pior, mostra uma interpretação errada da regra: diz que foram dois passos legais após ter segurado a bola. Chega a dizer (é o título da matéria), que eles não usam o livro de regras como referência.

Outro exemplo: vejam o vídeo a seguir:



Esse lance definiu uma partida de playoffs. Podemos ver claramente que Lebron James deu pelo menos dois passos depois de segurar a bola. Os árbitros? Nada...

Outro exemplo – Kobe Bryant:



Basta ir ao Youtube e digitar “traveling”. Aparecerão vídeos aos montes. Digitem “crab drible” e surgirá uma coleção de vídeos do Lebron James – o assunto vem sendo amplamente discutido na NBA.

Uma das conclusões da matéria é que isso seria feito para favorecer o atacante e aumentar a pontuação dos jogos. Coitados dos defensores... como se já fosse fácil tentar parar Kobe, Lebron ou D-Wade dentro das regras, ainda são obrigados a tentar parar com a arbitragem colaborando contra.

É mais ou menos o que acontece no futebol em relação ao impedimento. A FIFA orienta os árbitros e (especialmente) os auxiliares a deixarem o jogo seguir caso tenham dúvidas em relação ao lance – tudo em prol do ataque. Mas na prática o que se observa é que os bandeirinhas, na maioria das vezes, fazem exatamente o contrário: marcam impedimento o tempo todo, parece que enfaixaram o braço. Às vezes, a marcação é correta, como aconteceu TRÊS VEZES na final do Mundial de clubes da FIFA de 2005 entre São Paulo e Liverpool: nas três marcações de impedimento do ataque inglês o auxiliar estava correto por poucos centímetros. Sorte para nós, agora tricampeões mundiais. Mas, se ele tivesse deixado o lance seguir, estaria cumprindo a determinação da FIFA, e não poderia ser acusado de erro. Outro exemplo comum, também no futebol, é o agarra-agarra que acontece na grande área em TODOS os cruzamentos de bola parada. Ninguém nunca marca nada. Até onde eu sei, também está na regra.

Meu ponto é: se está na regra, que seja seguido. Hoje vemos lances nos quais jogadores de basquete conseguem partir da linha de 3 pontos e chegar até a cesta sem sequer dar um único drible na bola. Estamos falando, no caso do basquete, de uma das regras mais básicas do jogo – é quase a sua essência. Já se fala até em oficializar a possibilidade dos 2 passos APÓS pegar a bola. Acreditem, parece pouco, mas mudaria completamente a mecânica do jogo.

Fica a discussão. Deixo a seguir os links do TrueHoop com as 5 partes do estudo. Especialmente para os basqueteiros, recomendo:

1: Introduction: A basic rule, yet a mystery.
2: NBA Executive: "We really don't reference the rulebook."
3: NBA players on video: What's the rule?
4: Why traveling is tough to call.
5: Rewrite the rule.

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6 comentários:

Danilo Balu disse...

Bem bacana e instrutivo os vídeos!

Qto ao impedimento, acho que os bandeirinhas tentam se safar marcando impedimento na dúvida porque passado os programas noturnos de esporte NINGUÉM mais vai lembrar do erro, o gol eterniza o erro, não acha?

Acho a ideia da FIFA de favorecer o ataque justa, mas no caso de Tóquio com o SP e centenas de outros, os bandeirinhas não tiveram dúvida. Mas isso REALMENTE muda o resultado.

Falando nessa de mudar o resultado pequenos detalhes dos quais não temos controle, depois de ler um autor (o Taleb em Black Swan) não dá mais pra achar que resultado tb não altera o destino... ixi... isso é assunto pra conversa MTO longa.

Abrax

Ronalto disse...

Dica para quem escreve: NÃO FINALIZE UM POST ENQUANTO TENTA ASSISTIR A UM JOGO ENTRE LAKERS X SPURS (só os 2 melhores times da NBA dos últimos 10 anos) EM UMA OUTRA JANELA.

Fui ler o texto de novo e estava cheio de erros... cheguei até a trocar "cesta" por "sexta". Já corrigi tudo (acho).

Balu, quanto ao impedimento, concordo com você e acho que nesse caso deveria valer o "olho eletrônico", como na NFL, para invalidar lances validados de forma incorreta.

Abraço!

Bednaski disse...

Olá, eu estava discutindo com alguns amigos exatamente sobre esse assunto. Não consegui achar nada mais claro sobre o assunto do que a sua publicação. Porém, pela data da matéria 2009, gostaria de saber se tem alguma atualização sobre esse sobrepasso com a bola em mãos? Se foi oficializada essa possibilidade ou ainda é andada? Grato, abçs

Ronalt disse...

Caro Bednaski.
Primeiramente, tomei um susto ao ver um comentário num post tão antigo. Já faz quase 3 anos que não escrevo nada por aqui e achei que ninguém jamais voltaria a ler algo.
Enfim, até onde sei, não houve nenhuma mudança na regra, continua valendo o que escrevi. O que percebo, especialmente na NBA, é que a arbitragem "deixa passar" as andadas com muito mais frequência (na FIBA podemos ver maior número de marcações). Não sei se é orientação da NBA para deixar o jogo rolar ou falta de atenção à regra.
Abraço!
Ronalt

Unknown disse...

Muito bem esclarecido, fico triste em saber em que alguns blogs com qualidade, os administradores abandonem eles, como citado no seu comentário, parou de escrever faz algum tempo, qual seria o motivo dessa decisão?

Elizeu disse...

Boa noite amigo,
Muito esclarecedor o seu post.
Eu tenho uma dúvida:
Não se pode dar dois passo sem antes bater a bola, porém, se vir de uma corrida. Um exemplo, considere um ataque, meu armador vem com a bola, eu estou correndo para acompanhar ele, ele me passa a bola, como eu estou na corrida, posso dar dois passos sem bater a bola ?
Outra dúvida:
Se eu estou com a bola em direção ao ataque, na corrida, posso dar 3 passos ?

Muito Obrigado,