É realmente complicado manter um blog e escrever regularmente durante uma viagem de várias paradas. Mas devo fazer os comentários finais sobre o US OPEN antes de mudar o assunto principal dos posts.
Antes de mais nada, assistir a um Grand Slam in loco é uma experiência fantástica. Recomendo fortemente para quem tiver essa oportunidade. Obviamente, não pode ser comparada a assistir aos Jogos Olímpicos, mas guardadas as devidas proporções, o clima esportivo e de competição é muito semelhante. O Billie Jean King National Tennis Center é um complexo que, além de conter as quadras e os estádios, possibilita passar um dia agradável com as opções de refeição, compras e até mesmo um pouco de entretenimento nos stands dos patrocinadores. Durante o dia 12, quando choveu praticamente o dia todo, eu e meus amigos ficamos horas no stand da Heineken jogando Wii enquanto esperávamos pelo final da chuva e os jogos das semifinais femininas. Pessoas compravam um ingresso especial que dava apenas acesso ao complexo, mas não ao Artur Ashe Stadium, apenas para circular e curtir o evento. E, gostem ou não, não dá pra não dizer que os americanos sabem organizar um evento.
Sobre o torneio propriamente dito, não vou negar que a derrota de Roger Federer na final tenha sido um pouco decepcionante. Posso dizer que hoje tenho 3 grandes ídolos no esporte, considerando apenas atletas em atividade: Kobe Bryant, Rogério Ceni e Roger Federer. Obviamente já vi o goleiro e capitão tricolor atuar dezenas, centenas de vezes. Consegui ver Kobe jogando em Pequim. Faltava Federer. E, mesmo perdendo a final (volto a ela daqui a pouco), ele possibilitou momentos inesquecíveis para esse fanático por esporte. Já escrevi sobre o jogo das quartas-de-final, contra Robin Soderling, uma noite que se tornou memorável ao conseguirmos nos “infiltrar” no courtside. O que dizer então da aula de tênis que presenciamos na semifinal contra Novak Djokovic (meu segundo tenista favorito)? Foi uma atuação que beirou a perfeição. Na verdade, pode ter ido além disso. Nas palavaras do próprio Djokovic: “I don’t think that anyone can reach perfection playing tennis... you know, unless you’re Roger Federer” (“Eu não acho que alguém possa atingir a perfeição jogando tênis, sabe, a não ser que você seja Roger Federer”). O já histórico penúltimo lance do jogo, quando Federer tomou um lobby e conseguiu uma winner de costas por entre as pernas para chegar ao match point, foi a cereja do bolo de uma atuação impecável. As reações do Djoko, em certo momento do jogo, passaram a ser as mesmas de Soderling no jogo anterior. Sua expressão dizia algo como “de que adianta eu estar jogando muito, se jogar muito não é suficiente para vencer esse cara?”. Na transmissão oficial (recebíamos um tipo de rádio para ouvi-la), durante o terceiro set o narrador da CBS disse: “The way Djokovic is playing is enough to beat anyone on the tour, BUT this guy in red” (“A forma como Djokovic está jogando é suficiente para vencer qualquer jogador do circuito, menos esse cara de vermelho”).
E veio a final contra o argentino Juan Martin Del Potro, que havia eliminado Rafael Nadal sem dó nenhuma (6-2, 6-2, 6-2). Começa o jogo e parecia que realmente assistiríamos ao décimo-sexto título de grand slam do suíço. Fez 6-3 no primeiro set e estava sacando com 5-4 e 30-0 no final do segundo set. Del Potro jamais havia virado um jogo no qual perdia por 2 sets a 0 em sua carreira. Numa marcação de bola fora, desafiada pelo argentino e revertida na verificação eletrônica, Federer perdeu o controle – ele não é um robô! – e questionou o computador. Acabou perdendo o game e o set no tie-break. Ainda conseguiu vencer o terceiro set, mas seu primeiro saque parou de entrar (o aproveitamento ficou próximo dos 50%, o que é muito pouco) e, tendo que contar a maioria das vezes com o segundo saque, passou a tomar pancada atrás de pancada de um jogador de 1,95m de altura, com cada vez mais confiança, que conseguiu contagiar grande parte do público e fez o que parecia impossível: vencer o maior vencedor de grand slams da história na quadra onde ele estava invicto por 40 jogos. E de forma merecida. Para esse fã do suíço, foi tenso, foi relativamente decepcionante, mas não deixou de ser histórico. Coisas que só o esporte pode proporcionar.
Agora a Argentina, que está passando sufoco nas eliminatórias para a Copa de 2010, tem um novo herói nacional. Mas esse fã aqui ficou mais do que realizado por ter presenciado aquele que pode ser considerado o melhor da história em sua modalidade e seguramente o melhor atleta do mundo nessa década. E foi mundo bom também perceber que Roger Federer é um atleta que pode errar e que pode ter altos e baixos. Um dos melhores momentos que presenciei em Flushing Meadows ocorreu na manhã do dia 14, poucas horas antes do jogo final: nas quadras de aquecimento estavam treinando os dois finalistas. Del Potro estava na segunda quadra, ou seja, a cerca de 15 ou 20 metros de onde estávamos. Foi quando percebemos o quão grande ele é. E lá na última quadra (eram umas 7 ou 8 no total) estava treinando Federer. Havia uma quadra com arquibancada ao lado dessa última e fui até lá para tentar uma visão melhor. Havia uma barreira que impossibilitava que a maioria as pessoas pudesse ter qualquer ângulo de visão da quadra de aquecimento, mas felizmente sou alto e com um apoio aqui, outro ali, e consegui uma visão bem de frente. Federer terminava de treinar alguns saques e sentou para descansar e se hidratar ficou ali, ao lado do técnico, longe de todo mundo em silêncio, apenas contemplando as quadras à sua frente. Sem holofotes, sem gritaria, sem pressão. Apenas um cara se preparando para fazer o que faz melhor. E humano.
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Antes de mais nada, assistir a um Grand Slam in loco é uma experiência fantástica. Recomendo fortemente para quem tiver essa oportunidade. Obviamente, não pode ser comparada a assistir aos Jogos Olímpicos, mas guardadas as devidas proporções, o clima esportivo e de competição é muito semelhante. O Billie Jean King National Tennis Center é um complexo que, além de conter as quadras e os estádios, possibilita passar um dia agradável com as opções de refeição, compras e até mesmo um pouco de entretenimento nos stands dos patrocinadores. Durante o dia 12, quando choveu praticamente o dia todo, eu e meus amigos ficamos horas no stand da Heineken jogando Wii enquanto esperávamos pelo final da chuva e os jogos das semifinais femininas. Pessoas compravam um ingresso especial que dava apenas acesso ao complexo, mas não ao Artur Ashe Stadium, apenas para circular e curtir o evento. E, gostem ou não, não dá pra não dizer que os americanos sabem organizar um evento.
Sobre o torneio propriamente dito, não vou negar que a derrota de Roger Federer na final tenha sido um pouco decepcionante. Posso dizer que hoje tenho 3 grandes ídolos no esporte, considerando apenas atletas em atividade: Kobe Bryant, Rogério Ceni e Roger Federer. Obviamente já vi o goleiro e capitão tricolor atuar dezenas, centenas de vezes. Consegui ver Kobe jogando em Pequim. Faltava Federer. E, mesmo perdendo a final (volto a ela daqui a pouco), ele possibilitou momentos inesquecíveis para esse fanático por esporte. Já escrevi sobre o jogo das quartas-de-final, contra Robin Soderling, uma noite que se tornou memorável ao conseguirmos nos “infiltrar” no courtside. O que dizer então da aula de tênis que presenciamos na semifinal contra Novak Djokovic (meu segundo tenista favorito)? Foi uma atuação que beirou a perfeição. Na verdade, pode ter ido além disso. Nas palavaras do próprio Djokovic: “I don’t think that anyone can reach perfection playing tennis... you know, unless you’re Roger Federer” (“Eu não acho que alguém possa atingir a perfeição jogando tênis, sabe, a não ser que você seja Roger Federer”). O já histórico penúltimo lance do jogo, quando Federer tomou um lobby e conseguiu uma winner de costas por entre as pernas para chegar ao match point, foi a cereja do bolo de uma atuação impecável. As reações do Djoko, em certo momento do jogo, passaram a ser as mesmas de Soderling no jogo anterior. Sua expressão dizia algo como “de que adianta eu estar jogando muito, se jogar muito não é suficiente para vencer esse cara?”. Na transmissão oficial (recebíamos um tipo de rádio para ouvi-la), durante o terceiro set o narrador da CBS disse: “The way Djokovic is playing is enough to beat anyone on the tour, BUT this guy in red” (“A forma como Djokovic está jogando é suficiente para vencer qualquer jogador do circuito, menos esse cara de vermelho”).
E veio a final contra o argentino Juan Martin Del Potro, que havia eliminado Rafael Nadal sem dó nenhuma (6-2, 6-2, 6-2). Começa o jogo e parecia que realmente assistiríamos ao décimo-sexto título de grand slam do suíço. Fez 6-3 no primeiro set e estava sacando com 5-4 e 30-0 no final do segundo set. Del Potro jamais havia virado um jogo no qual perdia por 2 sets a 0 em sua carreira. Numa marcação de bola fora, desafiada pelo argentino e revertida na verificação eletrônica, Federer perdeu o controle – ele não é um robô! – e questionou o computador. Acabou perdendo o game e o set no tie-break. Ainda conseguiu vencer o terceiro set, mas seu primeiro saque parou de entrar (o aproveitamento ficou próximo dos 50%, o que é muito pouco) e, tendo que contar a maioria das vezes com o segundo saque, passou a tomar pancada atrás de pancada de um jogador de 1,95m de altura, com cada vez mais confiança, que conseguiu contagiar grande parte do público e fez o que parecia impossível: vencer o maior vencedor de grand slams da história na quadra onde ele estava invicto por 40 jogos. E de forma merecida. Para esse fã do suíço, foi tenso, foi relativamente decepcionante, mas não deixou de ser histórico. Coisas que só o esporte pode proporcionar.
Agora a Argentina, que está passando sufoco nas eliminatórias para a Copa de 2010, tem um novo herói nacional. Mas esse fã aqui ficou mais do que realizado por ter presenciado aquele que pode ser considerado o melhor da história em sua modalidade e seguramente o melhor atleta do mundo nessa década. E foi mundo bom também perceber que Roger Federer é um atleta que pode errar e que pode ter altos e baixos. Um dos melhores momentos que presenciei em Flushing Meadows ocorreu na manhã do dia 14, poucas horas antes do jogo final: nas quadras de aquecimento estavam treinando os dois finalistas. Del Potro estava na segunda quadra, ou seja, a cerca de 15 ou 20 metros de onde estávamos. Foi quando percebemos o quão grande ele é. E lá na última quadra (eram umas 7 ou 8 no total) estava treinando Federer. Havia uma quadra com arquibancada ao lado dessa última e fui até lá para tentar uma visão melhor. Havia uma barreira que impossibilitava que a maioria as pessoas pudesse ter qualquer ângulo de visão da quadra de aquecimento, mas felizmente sou alto e com um apoio aqui, outro ali, e consegui uma visão bem de frente. Federer terminava de treinar alguns saques e sentou para descansar e se hidratar ficou ali, ao lado do técnico, longe de todo mundo em silêncio, apenas contemplando as quadras à sua frente. Sem holofotes, sem gritaria, sem pressão. Apenas um cara se preparando para fazer o que faz melhor. E humano.
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