sábado, 22 de novembro de 2008

TORCEDORES e torcedores

Nessa reta final do Campeonato Brasileiro o tema "Torcedores" esteve presente no noticiário e nas diversas rodas de discussão. Ouvi e li em alguns lugares afirmações que dizem que a torcida do São Paulo, por exemplo, é "torcida de moda" e que só aparece nas horas boas, como agora, com o time na liderança e com boas chances de ser campeão mais uma vez. Pior que isso, ouvi até de alguns sãopaulinos que torcedor de verdade é só aquele que acompanha o time (por "acompanhar" entenda-se "ir ao estádio") em todos os jogos, seja na boa ou na má fase. Acho isso uma tremenda bobagem. Concordo que existam aqueles que mal conseguem escalar o time, ou ao menos citar 5 jogadores, e que só aparecem nessas horas, mas é um absurdo generalizar.

Meu sogro, Sr. Eduardo, é um dos maiores sãopaulinos que eu conheço. É sócio-torcedor mesmo morando em outra cidade (Santos). Assiste a TODOS os jogos pela TV (e ai de quem interromper durante uma transmissão). Tem mais informação sobre o time do que a grande maioria dos outros sãopaulinos que conheço - sabe até sobre os jogadores da base. Mas ele não vai a nenhum jogo (na verdade só costuma ir nos jogos contra o Santos na Vila Belmiro, onde aliás estamos invictos em 6 jogos). O fato de ser um "torcedor de sofá" o torna menos sãopaulino do que alguém que foi nos 18 jogos disputados no Morumbi até agora no Brasileiro? Tenho certeza que não.

Ir ao estádio não é uma tarefa das mais prazerosas... o acesso é ruim, não há transporte coletivo adequado (aliás, não há transporte coletivo nenhum!), estacionar o carro é uma aventura (que vontade de atropelar aqueles "guardadores" que vêm até o meio da rua pra tentar te empurrar pra uma vaga - cadê a polícia?), dentro do estádio o conforto é sofrível (se incluirmos os banheiros, o adjetivo correto é lamentável), e a saída acaba sendo uma aventura maior que a entrada (ah, que saudades do Ninho de Pássaro...). Se há opções para assistir aos jogos em casa confortavelmente, por que não?

Além disso, por mais contraditório que possa parecer, sou ao mesmo tempo um fã incondicional do futebol (e de esportes em geral, como já deu pra perceber), mas tenho uma visão mais relacionada ao custo-benefício do "espetáculo". Meu ponto é o seguinte: não vou perder tempo, dinheiro e passar por situações desconfortáveis (como descritas no parágrafo anterior) para assistir a um jogo de uma fase sem importância ou com o time jogando mal. Pra quê? Para passar nervoso? Não, obrigado! Prefiro acompanhar no conforto de casa. Vez ou outra acabo frequentando um ou outro jogo sem importância, mas normalmente quando não tenho programa melhor. Clássicos contra Palmeiras ou Corinthians? Não consigo nem me lembrar quando foi a última vez que fui num desses - acho que nosso técnico ainda era o Telê.

Pra muita gente isso é um problema. Dizem que torcida que é torcida acompanha o time até na má fase, como a torcida do Palmeiras e do Corinthias encheram os estádios durante as campanhas da segunda divisão. Como já escrevi antes, não consigo entender todo esse orgulho em fazer uma campanha vitoriosa na série B. Pra mim seria vergonhoso ter caído e jamais daria meu dinheiro para o time que me fez passar por tamanha vergonha. Quer ver meu dinheiro novamente? Volte à boa fase.

Mesmo assim, sou um frequentador dos estádios com relativa frequência. Costumo ir a todos os jogos da Libertadores (essa sim uma competição importante desde o começo) e vários jogos decisivos do Brasileiro. Neste ano fui ao Maracanã no fatídico jogo contra o Fluminense. Apesar do resultado e da tristeza (infelizmente às vezes faz parte), não deixou de ser um baita espetáculo em termos esportivos. Comprei alguns jogos pelo pay-per-view. E nunca deixo de acompanhar os jogos e os resultados. Isso não me faz ser mais torcedor que meu sogro ou menos torcedor que alguns conhecidos meus que vão em 90% dos jogos. De novo, não consigo entender essa obrigação de ter que ir ao estádio para demonstrar ser torcedor de verdade.

Chega num extremo que existem aqueles "torcedores profissionais", que são em grande parte membros de torcidas organizadas. São aqueles que vivem para acompanhar o time - são facilmente reconhecidos quando alguma baderna acontece, seja numa invasão de treino, num tumulto no aeroporto quando o time está embarcando ou desembarcando, seja numa briga de rua. Gostaria sinceramente de saber como esses caras arrumam dinheiro para se sustentar, já que aparentemente não trabalham e têm tempo para tumultuar o trabalho dos outros - leia-se treino do time. Sim, estou sendo irônico, é lógico que faço uma boa idéia de onde esse pessoal tira dinheiro, mas essa é uma história para um outro texto. Lembro de um jogo de Libertadores em que o São Paulo jogou MUITO mal e a torcida da arquibancada azul (onde não entra organizada), tentou empurrar o time até onde deu. No final do jogo, reclamou e vaiou. Fomos duramente xingados pelo pessoal da arquibancada laranja, como se não fôssemos torcedores de verdade.

Só vou ao cinema ver filme que me interessa. Quando acabo num filme ruim, ficou puto da vida. Só vou em show de artista que gosto e que sei que vai me proporcionar um espetáculo agradável. E uso o mesmo critério no futebol e no esporte em geral. Só pra falar de outra modalidade, no caso a minha preferida, o basquete, não perco meu tempo acompanhando campeonatos nacionais, pois o nível é muito ruim. Prefiro assistir a um jogo da NBA ou da Euroliga na TV. Atravessei o mundo para ver os melhores jogando em Pequim (nessa hora entraria o slogan daquele cartão de crédito) e ainda estou com uma pulga atrás da orelha por não ter pago a fortuna que os cambistas queriam pelo ingresso na final do basquete masculino. Porque sei que o nível do evento seria garantido. E foi.

Estive no Morumbi no último domingo e estarei lá novamente no dia 30, no jogo contra o Fluminense (eles de novo!), quem sabe comemorando mais um título do São Paulo. Meu sogro estará devidamente posicionado no seu canto preferido do sofá... e ambos fazendo uma das coisas que mais gostamos, sem nos preocupar se somos torcedores de moda, de sofá, ou profissionais (3 batidas na madeira). Somos simplesmente torcedores.

Um comentário:

Anônimo disse...

Mto bom! Além do que tem aquele raciocínio de 20mil do Morumba e 20mil no Palestra hahahaha
Abrax
Balu