domingo, 20 de junho de 2010

Lakers 83, Celtics 79. História foi escrita.

"This is one of the most poorly played games you will ever see from an offensive standpoint"
- Jeff Van Gundy, ESPN

“Somebody will come across the box score and think this was one of the more hideous championship games ever decided. The numbers won't convey the tension felt by everyone who watched, regardless of their rooting interest or even impartiality. The digits can't capture the reputations on the line, or the desire each side felt in a rivalry that has been pulled out of the dusty archives and displayed in vivid high-def during the 13 Finals games these two teams have played in the past three years.”
- J.A. Adande, ESPN.com



Não foi nada bonito, mas foi MUITO intenso. Os Lakers perderam as finais de 2008 para os Celtics e passaram a ser considerados um time “light”. Mesmo com o título de 2009, vencido em cima do Orlando Magic nas finais, ainda ficava aquele ponto de interrogação, chamado Boston Celtics. Toughness (ser agressivo, ser duro, ser forte, ter raça, tudo isso junto). Essa era a palavra que perseguia o time. E “toughness” foi o que não faltou no jogo 7. Faltou nível técnico para ambos os times, mas foi uma guerra do começo ao fim. Ao final do jogo, era evidente que todos os jogadores estavam exaustos. Principalmente os Celtics, que não conseguiram segurar uma vantagem de 13 pontos conquistada no início do terceiro quarto (talvez por culpa do técnico Doc Rivers, que não utilizou o banco de reservas como deveria).

Assim como nos outros 6 jogos da série, o time que pegou mais rebotes venceu o jogo. Os Lakers pegaram 53 rebotes, contra 40 dos Celtics. Mas que impressionou foram os 23 rebotes ofensivos dos Lakers em uma noite de baixíssimo aproveitamento nos arremessos – tiveram que lutar por cada ponto. Ao final do segundo tempo Kobe Bryant e Pau Gasol estavam com um aproveitamento somado de 6-26. E estavam com uma desvantagem de apenas 6 pontos. Do laudo dos Celtics, os arremessos também não caiam. Paul Pierce e Ray Allen combinaram para um aproveitamento de 8-29 ao longo do jogo.

E no meio de toda essa bagunça, temos a história do jogo: Ron Artest. Como fiquei feliz ao lembrar de ter escrito aquele parágrafo sobre ele antes do jogo, dando crédito por tudo o que ele vinha fazendo. Seria muito fácil elogiá-lo apenas agora, após o jogo 7. Foi ele que manteve os Lakers no jogo quando nada dava certo. Ninguém fez mais pontos do que ele no primeiro tempo (12). Suas 5 roubadas de bola foram providenciais e, o mais importante, segurou mais uma vez Paul Pierce na defesa (PP terminou com 5-15 nos arremessos). Durante os momentos decisivos do jogo, logo após uma bola de 3 pontos de Rasheed Wallace,reduzindo a vantagem dos Lakers para 3 pontos, foi Ron Ron que fez a cesta mais importante da noite, em um arremesso de 3 pontos daqueles que TODOS os torcedores dos Lakers tinham calafrios (“NÃÃÃÃÃÃO!”) quando ele arremessava nos jogos anteriores. Naquele arremesso, após o qual ele jogou beijos para a torcida, levou a diferença para 6 pontos (79-73) com apenas 60 segundos para jogar. Ainda teríamos mais 2 bolas de 3 para os Celtics, uma de Ray Allen e outra de Rajon Rondo (mais uma bizarrice do jogo), mas os lances livres de Kobe Bryant e (pasmén!) Sasha Vujacic, deram os números finais: 83-79.

E como se tudo isso não bastasse, Ron Ron ainda deu entrevistas folclóricas após jogo (deixo os vídeos abaixo, vale a pena!), agradecendo até à sua psiquiatra, que o ajudou a ficar mais relaxado. O cara que causou a maior briga da história da NBA, em 2005 e que ficou suspenso por 1 ano foi o principal nome de um jogo 7 entre os dois times mais tradicionais e vencedores da história da NBA, que somam 33 títulos em 64 anos de liga.

Kobe levou o prêmio de MVP, apesar da má atuação no ataque (6-24). Muito se fala que ele teria a obrigação de ser o melhor em quadra, como Michael Jordan fazia. Não vamos nos esquecer que houve situações que Michael Jordan precisou da ajuda de coadjuvantes, especialmente John Paxon (1991 e 1993) e Steve Kerr (1997) para garantir alguns títulos. Kobe estava jogando contra uma marcação implacável, quase sempre dupla, dos Celtics, que pareciam determinados a impedir que ele jogasse, na tática de “se eles querem nos vencer, que nos vençam com os outros jogadores, pois não vamos deixar o superstar fazer nada”. Terminou o jogo com 23 pontos, mas precisou de 24 arremessos para isso, acertando apenas 6. Compensou nos rebotes – foram 15 no total. Se no ataque as coisas não davam certo, ele conseguiu contribuir – e muito – de outra forma.

Pau Gasol poderia ter sido eleito o MVP que também teria sido merecido. Terminou o jogo com 19 pontos e 18 rebotes, sendo alguns decisivos. Acrescente os 23 pontos e 14 rebotes do jogo 1 e o quase triple-double do jogo 6 (17-13-9), todos em vitórias dos Lakers, e temos um série monstruosa. Além disso, o melhor jogo do Kobe veio em uma derrota (no jogo 5), enquanto as 3 melhores atuações de Gasol aconteceram em vitórias.

E não dá pra não falar de Phil Jackson. Na minha previsão antes da temporada eu o citei como o maior ponto de interrogação para a temporada, pelo desafio de repetir o título e de comandar Ron Artest. E pela quarta vez ele consegue títulos consecutivos. Nas outras três vezes, duas pelo Chicago Bulls (91-93 e 96-98) e outra pelos Lakers (2000-2002) ele conseguiu o three-peat. Teria condições de buscar o quarto tricampeonato? Vai depender de suas condições de saúde. Mas não dá mais para questioná-lo, após 11 títulos, como o maior técnico da história da NBA.

Voltando ao jogo, para finalizar. Hoje, 2 dias depois, fica cada vez mais claro o quão intenso o jogo foi. Vimos jogadores multimilionários voando de cabeça em bolas perdidas e atrás de cada rebote. Tudo pelo desejo de vencer. É um jogo que cada técnico de cada modalidade esportiva, não importa o nível, deveria utilizar como exemplo para suas equipes. Ao longo da série não tivemos nenhum jogo decidido no último segundo. Mas tivemos uma série definida no último jogo. Foi histórica. E os Lakers passaram pelo seu eterno fantasma, os Celtics.


Ron Artest - entrevista após o jogo




Ron Artest – Jimmy Kimmel Live


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