Aproveitando o gancho do Balu sobre o assunto do horário dos jogos noturnos em São Paulo, assunto que tem sido muito discutido na mídia recentemente, resolvi dar a minha opinião também. Eu gosto muito (muito mesmo!) de futebol e vou a todos os jogos importantes do São Paulo no Morumbi (por importantes entenda-se todos os jogos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro e os clássicos do Campeonato Paulista). Sou proprietário do passaporte tricolor (nosso “season tickets”) pelo segundo ano consecutivo. Em outras palavras, futebol é realmente importante para mim.
Mas acho que às vezes essa “importância” do futebol ultrapassa alguns limites além do que deveria. O Balu citou uma frase que é muito falada pelo Milton Neves (não sei se ele é o autor da frase ou não): “O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”. Concordo plenamente. O problema é que pra muita gente passa a ser uma das coisas mais importantes entre as mais importantes. O maior exemplo de que essa importância é extrapolada é a ação dos torcedores que se “profissionalizam” na atividade de torcer. Fico completamente inconformado quando vejo notícias de que torcidas “organizadas” (de qualquer time) invadem treinos para cobrar o time por maus resultados. Esse pessoal não tem mais nada para fazer numa segunda-feira à tarde? Não trabalha? E o que lhes dá o direito de invadir um ambiente de trabalho, que é o que os treinos são, para causar tumulto?
Encaro futebol como mais uma alternativa de lazer. Deixadas as proporções de lado, é como o cinema, o teatro, um show de rock ou até um programa de TV. Se é bom (ou mesmo importante), quero assistir, se não é, não faço questão. Se eu estiver presente e não gostar, tenho todo o direito de vaiar e reclamar, pois estou pagando pelo ingresso. Mas invadir os treinos vai além do meu direito de consumidor. Se o espetáculo ficar constantemente ruim ou deixar de ser atrativo por qualquer outro motivo, simplesmente deixo de ir. Não vou invadir um set de filmagens ou um estúdio de gravação para cobrar os artistas.
Em São Paulo a discussão do momento é um projeto de lei que foi aprovado na Câmara dos Vereadores e vetado pelo prefeito Gilberto Kassab (provavelmente por questões políticas) que queria proibir que os jogos terminassem após as 23h15. O argumento é que o horário dos jogos às 21h50 (“após a novela da Globo”) é a causa da queda de público nos estádios: o cidadão não vai ao estádio nesse horário porque, quando o jogo acabar, lá pela meia-noite, não terá como voltar para casa utilizando transporte público ou então terá mais risco de ser uma vítima da violência urbana. Concordo que faz sentido, mas confesso que não consigo aceitar que alguns órgãos da mídia estejam fazendo uma campanha tão intensiva em cima desse assunto. Sou ouvinte assíduo e antigo da Rádio Jovem Pan AM, mas quando seus editoriais sobre o assunto começam (e são repetidos várias vezes ao longo do dia), mudo de estação imediatamente, ficou muito chato e repetitivo, além de parecer que uma catástrofe vai acontecer se a mudança não acontecer. Já cansei de ver jogos às 20h30 com tão pouco público quanto os jogos das 21h50. Tenho certeza que o que faz a diferença é a qualidade e a importância de determinado jogo e que o impacto do fator horário é muito menor do que se anda dizendo por aí.
Os clubes de futebol têm quatro principais fontes de receita (em alguma ordem): patrocínios, venda de jogadores, bilheteria e venda dos direitos de transmissão para a TV. Provavelmente a bilheteria é a menor de todas. Ao venderem os direitos de transmissão, sabem que a TV terá o poder de definir os horários dos jogos para quando bem entender (é assim no mundo todo e em qualquer modalidade esportiva – o maior exemplo foi a Copa do Mundo dos Estados Unidos em 1994, quando a final foi disputada ao meio-dia de Los Angeles por questões televisivas para a Europa). Se o torcedor acha que não vale a pena ir ao estádio em tal horário, não vá e não dê seu dinheiro ao clube... simples assim! E se essa redução de público é compensada ou não pela receita que vem da TV, cabe aos clubes avaliarem se está sendo vantajoso ou não. O problema é todo deles, é uma questão puramente econômica.
Obviamente, eu acharia ótimo se os jogos começassem sempre entre 20h30 e 21h00, mas não deixo de ir ao estádio nos jogos das 21h50. É verdade que uso meu carro para ir e vir, mas chego em casa somente lá pela 1h00 da madrugada e acordo por volta das 06h30 para ir trabalhar. Mas eu entendo como as coisas funcionam e é uma opção minha continuar indo, mesmo ficando com mais sono no dia seguinte.
Na minha opinião, os políticos deveriam se empenhar em dar condições para que os eventos pudessem ocorrer sem maiores problemas, disponibilizando transporte adequado e garantindo a segurança, não usar esses problemas como justificativa para mudar os horários arbitrariamente ou, como também lembrou o Balu, simplesmente jogar a culpa na Rede Globo. Estão querendo tratar o futebol como um direito do cidadão, quase num mesmo patamar que saúde e educação, transformando-o numa coisa muito mais importante do que realmente é. O futebol faz parte da cultura do Brasil e, sem dúvida, precisa ter sua organização melhorada para que a população possa usufruí-lo da melhor forma possível. Mas cada coisa no seu devido lugar.
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2 comentários:
Se tem alguma coisa que eu concordo em tudo isso é que a imprensa em geral tá fazendo um alarde maior que o necessário. Talvez por uma pontinha de ciúme/vingança da Rede Globo, eu não os culpo. Mas de resto simplesmente não me conformo com a posição de vocês.
Não posso aceitar o argumento, é assim no mundo inteiro!! Fazer a final da Copa do mundo as 12h00 por causa da Europa é um absurdo. Deveríamos achar isso ruim tanto lá fora como aqui.
Eu sou árbitro de tenis, e uma das regras da FPT quanto a realização de jogos durante a semana é que os jogos devem iniciar no máximo até as 20h30, e se tiver menores de idade jogando não pode acabar depois das 22h00, tendo que ser interrompido e continuar em outro dia. Taí uma federação que respeita os atletas.
Também morei 5 anos em São José dos Campos, e constantemente eu ia durante a semana pra São Paulo para assistir um concerto na Sala São Paulo, que começa as 20h30, mas isso não me impedia de chegar na Embraer as 7h30 no dia seguinte, mesmo com uma hora de viagem entre as duas cidades. Hoje mesmo morando em São Paulo, eu deixei sim de ir ao estádio durante a semana por causa do horário dos jogos, e não sou só eu não, é só vocês sairem perguntando por aí.
Não faz muito tempo, quando a Rede Bandeirantes transmitia os jogos (que iniciacam as 20h30) durante a semana, era difícil não colocar 120 mil pessoas no Morumbi num jogo importante, hoje quando o público é acima de 30 mil pessoas todo mundo acha que o estádio tá cheio. Onde estão esses 90 mil torcedores...
Já com os jogos iniciando as 21h50, vejam se alguém sai do interior, ou mesmo de Santo Andre, Guarulhos ou Osasco pra ir num estádio em Sao Paulo...
E pra terminar, vocês acham mesmo que o transporte público e a violência nas ruas é a mesma na cidade tanto as 22h00 ou as 24h00... Só se for pra quem anda de táxi, senão não podemos estar falando da mesma cidade.
Sds
Leonardo
Leonardo,
Eu também sou partidário de que os jogos comecem mais cedo! Acho que isso ficou claro. O que eu não consigo entender é por que tem que se chegar até os políticos para que esse assunto seja tratado! Eles têm coisas mais importantes para tratar. E a campanha da imprensa também está MUITO exagerada, nas parece que nisso já concordamos.
Você deu um bom exemplo da federação de tênis que limita os horários dos jogos. Acho isso ótimo, mas desde que seja algo definido entre federações esportivas, atletas e clubes... deixe os políticos se preocuparem com as coisas para as quais eles foram eleitos.
No ano passado estive no US OPEN e o jogo das quartas-de-final entre Federer e Soderling começou às 22h. Ao final do segundo set o Arthur Ashe Stadium já estava com apenas uns 30% da lotação. Até escrevi um post sobre isso, procure meu artigo.
Abraço!
Ronalt
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