Nesse final de semana resolvi planejar minha próxima viagem de férias (sim, aquela do US OPEN). Juntei os guias de Nova York, da Califórnia, visitei uns 400 sites na Internet e, obviamente, deixei a TV ligada, alternando entre os canais esportivos. Os principais eventos em andamento eram o Tour de France e o The Open (ou British Open de golfe). Dessa vez, sem o carismático Phil Mickelson (afastado para acompanhar a esposa num tratamento de câncer de mama) e com o Tiger Woods (o tal atleta mais bem pago do mundo) não passando pelo corte de sexta-feira. Para quem não acompanha, ou seja, quase todo mundo que não seja eu e mais alguns poucos, o campeonato é disputado ao longo de 4 dias, sendo que em cada dia são jogados os 18 buracos do campo. Ao final da sexta-feira (segundo dia) é estabelecida uma pontuação de corte para que apenas parte dos golfistas continue jogando nas 2 rodadas finais, sábado e domingo. Dessa vez, Tiger ficou pelo caminho.
Mesmo sem Woods e Mickelson (números 1 e 2 do mundo, respectivamente), resolvi deixar a TV sintonizada no Open porque o veterano Tom Watson, de 59 anos de idade, começou o domingo na liderança do campeonato. Watson teve seu auge na segunda metade dos anos 70 e na primeira metade dos anos 80, quando ganhou 8 Majors (os grand slam's do golfe) - 5 vezes o The Open, 2 vezes o US Open e 1 vez o Masters. E olha que na época competia com ninguém mais, ninguém menos, que Jack Nickalaus, o maior golfista da história. E agora, 26 anos depois de sua última conquista de um Major (o próprio The Open de 1983) e 11 depois de sua última vitória no PGA, tinha a chance de causar um daqueles momentos que são comentados para sempre. Uma vitória de Watson em um Major aos 59 anos seria mais ou menos equivalente a, digamos, a uma vitória de Gustavo Kuerten em Roland Garros nos dias de hoje. Ou de John McEnroe em Wimbledon. Obviamente, nunca veremos isso acontecer no tênis, onde a condição física é muito mais relevante, mas acho que consegui passar a idéia.
Peguei a última rodada já no 13º buraco e a briga pela liderança estava sempre entre 3 ou 4 golfistas (Watson incluso). O mundo estava torcendo por ele, até os comentaristas da TV deixaram a imparcialidade de lado e as reações do público a cada buraco cumprido deixava claro que um momento histórico estava se aproximando. No 18º buraco, Stewart Cink, com um birdie, fechou sua participação com 2 tacadas abaixo do par. Momentos depois, Tom Watson chegava no mesmo 18 com 3 tacadas abaixo do par. Isso significava que precisaria fazer apenas o par o buraco (4 tacadas) para garantir o título.
A primeira tacada muito boa, no fairway. Já a segunda, a de aproximação no green, com um pouco mais de força do que o necessário, passou pela bandeira e foi para fora do green. Não conseguiu fazer o par e, com um boggie, terminou empatado com Cink em -2. No playoff de 4 buracos, uma série de más tacadas de Watson (já bem mais cansado) e Stewart Cink conquistou seu primeiro major na carreira, de forma merecida.
Sem desemerer a conquista de Cink, a decepção foi geral. Deixamos de presenciar mais um momento histórico. Mas tenho certeza que essa atuação não será esquecida tão cedo. Sei que eu não vou esquecer. Como não esqueceria se Guga conseguisse um vice campenonato de Roland Garros em 2010. Sei que muitos vão ler esse post e voltarão a comentar que golfe não tem graça nenhuma e que só um louco para acompanhar. Mas foi mais uma demonstração de que o esporte pode trazer momentos especiais. Vamos ver o que esse pessoal vai pensar de mim quando eu escrever sobre ciclismo - domingo se encerra o Tour de France e Lance Armstrong, a lenda, está disputando a liderança geral.