terça-feira, 21 de julho de 2009

QUASE HISTÓRICO


O pessoal do trabalho costuma me encher o saco, dizendo que sou tão louco por esporte que "acompanho até jogo de golfe". Em resposta, lembro a eles apenas que o atleta mais bem pago do mundo atualmente é justamente um jogador de... golfe!

Nesse final de semana resolvi planejar minha próxima viagem de férias (sim, aquela do US OPEN). Juntei os guias de Nova York, da Califórnia, visitei uns 400 sites na Internet e, obviamente, deixei a TV ligada, alternando entre os canais esportivos. Os principais eventos em andamento eram o Tour de France e o The Open (ou British Open de golfe). Dessa vez, sem o carismático Phil Mickelson (afastado para acompanhar a esposa num tratamento de câncer de mama) e com o Tiger Woods (o tal atleta mais bem pago do mundo) não passando pelo corte de sexta-feira. Para quem não acompanha, ou seja, quase todo mundo que não seja eu e mais alguns poucos, o campeonato é disputado ao longo de 4 dias, sendo que em cada dia são jogados os 18 buracos do campo. Ao final da sexta-feira (segundo dia) é estabelecida uma pontuação de corte para que apenas parte dos golfistas continue jogando nas 2 rodadas finais, sábado e domingo. Dessa vez, Tiger ficou pelo caminho.

Mesmo sem Woods e Mickelson (números 1 e 2 do mundo, respectivamente), resolvi deixar a TV sintonizada no Open porque o veterano Tom Watson, de 59 anos de idade, começou o domingo na liderança do campeonato. Watson teve seu auge na segunda metade dos anos 70 e na primeira metade dos anos 80, quando ganhou 8 Majors (os grand slam's do golfe) - 5 vezes o The Open, 2 vezes o US Open e 1 vez o Masters. E olha que na época competia com ninguém mais, ninguém menos, que Jack Nickalaus, o maior golfista da história. E agora, 26 anos depois de sua última conquista de um Major (o próprio The Open de 1983) e 11 depois de sua última vitória no PGA, tinha a chance de causar um daqueles momentos que são comentados para sempre. Uma vitória de Watson em um Major aos 59 anos seria mais ou menos equivalente a, digamos, a uma vitória de Gustavo Kuerten em Roland Garros nos dias de hoje. Ou de John McEnroe em Wimbledon. Obviamente, nunca veremos isso acontecer no tênis, onde a condição física é muito mais relevante, mas acho que consegui passar a idéia.

Peguei a última rodada já no 13º buraco e a briga pela liderança estava sempre entre 3 ou 4 golfistas (Watson incluso). O mundo estava torcendo por ele, até os comentaristas da TV deixaram a imparcialidade de lado e as reações do público a cada buraco cumprido deixava claro que um momento histórico estava se aproximando. No 18º buraco, Stewart Cink, com um birdie, fechou sua participação com 2 tacadas abaixo do par. Momentos depois, Tom Watson chegava no mesmo 18 com 3 tacadas abaixo do par. Isso significava que precisaria fazer apenas o par o buraco (4 tacadas) para garantir o título.

A primeira tacada muito boa, no fairway. Já a segunda, a de aproximação no green, com um pouco mais de força do que o necessário, passou pela bandeira e foi para fora do green. Não conseguiu fazer o par e, com um boggie, terminou empatado com Cink em -2. No playoff de 4 buracos, uma série de más tacadas de Watson (já bem mais cansado) e Stewart Cink conquistou seu primeiro major na carreira, de forma merecida.

Sem desemerer a conquista de Cink, a decepção foi geral. Deixamos de presenciar mais um momento histórico. Mas tenho certeza que essa atuação não será esquecida tão cedo. Sei que eu não vou esquecer. Como não esqueceria se Guga conseguisse um vice campenonato de Roland Garros em 2010. Sei que muitos vão ler esse post e voltarão a comentar que golfe não tem graça nenhuma e que só um louco para acompanhar. Mas foi mais uma demonstração de que o esporte pode trazer momentos especiais. Vamos ver o que esse pessoal vai pensar de mim quando eu escrever sobre ciclismo - domingo se encerra o Tour de France e Lance Armstrong, a lenda, está disputando a liderança geral.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

PRESENCIANDO A HISTÓRIA


"Thanks a lot for making us look so average" (Muito obrigado por nos fazer parecer tão medianos). John McEnroe para Roger Federer, no vídeo acima.

Quando Michael Jordan, Tiger Woods, John McEnroe e Pete Sampras participam do mesmo vídeo apenas para dar os parabéns para uma conquista dessas, é bom ouvir, assimilar e entender que estamos falando de alguém que faz história. Escrevi em fevereiro que somos privilegiados por poder acompanhar alguns dos melhores da história numa época em que os avanços tecnológicos, especialmente relacionados às transmissões de TV e Internet, fazem com que os acontecimentos ocorram quase que dentro da nossa sala de estar.

Assim que acabou o jogo recebi uma mensagem do meu amigo Batata: "Monstro. Estamos vendo a história acontecer". Momentos depois, chegou um e-mail do PJ: "(...)você joga o jogo da sua vida contra o Federer. E perde.". Depois foi uma ligação da minha amiga Val Carneiro, pra contar que saiu de São José dos Campos ao final do quarto set e quando chegou em São Paulo ainda conseguiu assistir aos 4 games finais do jogo. E que durante o caminho conversou com algumas amigas que também estavam assistindo ao jogo.

Quem tem algum sentimento especial pelo esporte (qualquer um) se viu na obrigação de ficar na frente da TV nesse domingo de sol (um pouco frio, é verdade, mas o dia estava bonito - eu mesmo olhei para fora algumas vez e pensei nisso) para ver Roger Federer, num jogo épico, vencer o americano Andy Roddick e conquistar seu DÉCIMO QUINTO título de Grand Slam, superando o recorde de Pete Sampras. O próprio Pete Sampras estava presente na quadra central de Wimbledon, ao lado de Bjorn Borg e Rod Laver (alguns dos maiores de todos os tempos) para aplaudir o novo melhor tenista da história (as discussões serão infindáveis). Pelo menos, o mais vitorioso. No mesmo texto que escrevi em fevereiro, comentei do choro de Federer após a derrota na final do Australia Open. Acabei não escrevendo sobre sua vitória em Roland Garros, quando se tornou o sexto homem a ganhar os quatro títulos de Grand Slam na carreira (Australia, Roland Garros, Wimbledon e US Open), pois estava muito envolvido com as finais da NBA. Mas agora faço questão de usar minha noite de domingo para escrever sobre essa lenda em atividade.

E Andy Roddick fez o jogo de sua vida. Jogou demais. Contra qualquer outro adversário teria vencido até com certa tranquilidade. Não teve seu serviço quebrado nenhuma vez nos 4 primeiros sets (os sets vencidos pelo Federer foram no tie break) e nem nos 29 (!) primeiros games do quinto set. Sofreu a quebra exatamente quando perdia por 15x14. Nunca neguei que não consigo torcer contra o Federer, mas no final do jogo estava pensando que ficaria feliz com uma vitória do Roddick, pois:

1) Foi uma atuação e tanto;

2) Deixaria a quebra do recorde suspensa até o próximo torneiro de Grand Slam, quando eu poderia ter a oportunidade de presenciar a história, não na minha sala de estar, mas na seção 315 do Arthur Ashe Stadium, onde será a minha próxima aventura. Depois de iniciar a vida de turismo esportivo nos Jogos Olímpicos de Beijing no ano passado, nesse ano o foco será em Flushing Meadows, NY. Nesse mesmo final de semama em que a história era escrita em Wimbledon, recebi um pacote da Fedex com os ingressos do US OPEN. Hoje falta exatamente 2 meses para o embarque e já garanti presença nas quartas-de-final, na semifinal e na grande final. E mais uma oportunidade de acompanhar a história, que nas palavras do Dácio Campos, é uma tremenda sortuda por poder contar com Roger Federer para escrever uma de suas partes mais sensacionais.

Mas Federer decidiu que de hoje não passaria. Após uma derrota épica para Rafael Nadal em 2008, uma vitória épica em 2009. E, de quebra, a reconquista do topo do ranking mundial. Um dia histórico, no qual eu também bati o recorde de utilização da palavra "história" (ou derivadas) num mesmo texto. Mas isso é de menos quando estamos reverenciando um monstro. Mal posso esperar para poder aplaudi-lo in loco.